domingo, 28 de junho de 2009

Conhecer Adamastor, o gigante das águas em Os Lusíadas


Canto V - O Gigante Adamastor
Uma tempestade ameaça a esquadra de Gama, quando ela se aproxima do Cabo das Tormentas. Eis que uma figura gigantesca, horrenda e ameaçadora surge no ar. É Adamastor, que ameaça os portugueses, dizendo-lhes que o preço de haverem descoberto seu segredo seria alto. Profetiza os naufrágios que ocorreriam em suas águas, e os horrores por que passariam os que àquela terra viriam a ter.
Vasco interpela o Gigante, perguntando-lhe quem era. Disse ser ele o Tormentório [Cabo das Tormentas]. Muito tempo atrás, apaixonara-se pela bela ninfa [deusa das águas] Tétis, a quem vira um dia sair pela praia em companhia das nereidas [deusas que habitam o mar]. Compreendendo que por ser gigante, feio e disforme, não poderia conquistá-la por meios normais, ameaçou a mãe dela [a deusa Dóris] para que essa lhe entregasse a ninfa. Caso isso não se realizasse, ele a tomaria mediante o uso das armas. Dóris fez com que a bela Tétis lhe aparecesse nua...
E ele, desesperado de desejo, começou a beijar-lhe os lindos olhos, a face e os cabelos.Mas, aos poucos, percebeu, horrorizado, que, na verdade, estava beijando era um penedo [rochedo] e ele próprio se transformara noutro penedo. Aquela Tétis que ele vira era apenas um 'arranjo' artificial que os deuses prepararam para puni-lo por sua audácia.Desde então deixou de ser um gigante mitológico e passou a cumprir seu castigo transformado num simples acidente geográfico. Continuava, para aumentar o rigor de sua pena, a contemplar, petrificado, a bela Tétis passeando nua pela praia. A única maneira que encontrava para desabafar o seu desespero e a sua frustração era destruir, com fantásticas tempestades, os navios que por ele tentavam passar.
37. Porém já cinco sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca de outrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem, que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.
39. Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.
40. Tão grande era de membros, que bem posso
Certificar-te que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso,
Que um dos sete milagres foi do mundo.
Co'um tom de voz nos fala, horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo,
Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
A mim e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!

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