quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Redes sociais na escola









CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA BRASIL
14 OUTUBRO 2009
QUARTA-FEIRA
16:17


TIC - Tecnologias da Informação e Comunicação : USO DAS REDES SOCIAIS NA ESCOLA ENRIQUECE PROCESSO DE APRENDIZADO
23/06/2009 (1426 leituras)
Especial Redes Sociais na Educação



Em dezembro de 2008, 17,2 milhões de pessoas acessaram o Orkut nos lares brasileiros, o que significa sete em cada 10 internautas residenciais, o que o alça à posição de rede social de maior adesão no País. Em média, cada usuário gasta quatro horas e 40 minutos por mês no site, segundo o Ibope/NetRatings. O site é o segundo colocado em visitantes, perdendo apenas para o buscador Google, mas possui o maior volume de acessos e o maior tempo gasto da web residencial brasileira. (Confira mapa das redes sociais no mundo)

O principal público do Orkut são os adolescentes. Pessoas com até 20 anos representam 56% dos acessos ao site. Uma criança abre em média 470 páginas por mês, um adolescente vê 1.850 e adultos não passam de 700 (Ibope/NetRatings).De acordo com o levantamento Kids Experts 2008, encomendado pelo canal infantil Cartoon Network, 80% dos adolescentes entre 13 e 15 anos e 67% das crianças entre 10 e 12 usa com freqüência programas como MSN Messenger ou Google Talk.

A ampla disseminação entre as novas gerações do uso das novas tecnologias e, mais especificamente, das redes sociais na internet pode ser de grande valia para educação. O trabalho em rede pressupõe colaboração, cooperação, valores que só enriquecem o processo de aprendizado. "Uma pesquisadora espanhola - Tíscar Lara- diz que educar em rede e sobre as redes é uma questão de atitude. Afirma também que, quando o educador incorpora o uso de comunidades virtuais - redes sociais - em sua prática docente está desenvolvendo também um currículo oculto: o aprender a viver em rede", destaca Sonia Bertocchi, gestora da comunidade virtual Minha Terra, do EducaRede, e autora do blog Lousa Digital. .

Assim, a educação adquire um caráter coletivo, para o qual Jésus Beltran Llera chama a atenção no artigo "A Sociedade em Rede": "No contexto das comunidades virtuais, a construção do conhecimento já é uma atividade social e não meramente individual".

A interação proporcionada pelas redes permite encontros, trocas, compartilhamento."A educação não é um processo solitário; é um processo coletivo. A gente aprende com outras pessoas, olhando o que elas estão fazendo; aprende com as impressões dos outros", acredita Raquel Recuero, autora do livro "Redes Sociais na Internet" (Ed. Sulina).
"As redes são ambientes virtuais que, entre outros recursos, oferecem muitas formas de interação com diversas pessoas, que estimulam o contato com a diversidade sociocultural, dão condições para se criar uma rede de amigos, que estimulam o participante a se manter informado pelo assunto de seu interesse", afirma Sonia.

Além disso, o uso das redes com fins educativos permite que o processo de aprendizado extrapole os muros da escola, vencendo limitações impostas pela sala de aula. "O tempo de encontros nas escolas é muito reduzido e não oferece oportunidades para que todos os alunos de uma turma possam expressar suas dúvidas ou opiniões", destaca Vani Kenski, doutora em Educação, autora do livro "Educação e Tecnologias: o novo ritmo da informação" (Ed. Papirus) e coordenadora do Site Educacional. "A organização de redes virtuais em que todos podem participar e apresentar sem medo suas opiniões e dificuldades auxilia os alunos, que podem, por sua vez, se ajudar, oferecendo informações e esclarecendo pontos mais difíceis de compreensão, colaborando para que todos aprendam", complementa.


Nova postura

Um dos desafios do trabalho em redes na escola é que ele pede do professor uma nova postura. "De repente, você se vê em uma posição em que tem que aceitar o que o aluno fala. Aceitar no sentido de ouvir, ponderar se aquilo é viável ou não. É uma postura totalmente diferente. É trabalhar em equipe o tempo inteiro e a sua equipe são crianças, alunos de 12, 13 anos. Então, o professor tem que estar aberto para isso. Tem que se perguntar: Será que eu estou preparado para trocar com o meu aluno, ouvir o que ele tem para falar?", conta Marta Argolo, professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Capistrano de Abreu, em São Paulo (SP), e participante da comunidade virtual Minha Terra, do EducaRede.

"A prática convencional do professor reservava pra ele alguns papéis bastante consolidados: o de autor, produtor e educador. Em rede, a relação se caracteriza pela prevalência da horizontalidade e essa hierarquia rígida dos papéis tende a se diluir. O professor passa a desempenhar também outros papéis dentro do processo: leitor, consumidor, educando. O processo se dá em mão dupla: todos ensinam, todos aprendem. Não necessariamente as mesmas coisas. O que acontece é uma troca de saberes que enriquece significativamente o processo todo", destaca Sonia.

Vani Kenski faz uma análise na mesma linha: "O professor passa a assumir a postura já tão exaltada por Paulo Freire e outros teóricos que atribuem ao professor o papel de facilitador ou orientador da aprendizagem dos alunos. Retomando a Paulo Freire, vale lembrar sua frase famosa de que professor não é o que ensina, mas o que, de repente, aprende...".

A especialista, no entanto, acredita que mais que uma disposição dos educadores em inovar na sua prática pedagógica, o uso das redes sociais exige uma transformação maior, estrutural. "O principal desafio é a compreensão da nova realidade posta nos espaços virtuais como uma nova cultura, com comportamentos e relações muito diferenciados dos que ocorrem nos tradicionais espaços educacionais. Não se trata apenas de mais um espaço ampliado de se fazer a mesma educação, mas de um outro e muito diferenciado espaço para se fazer novas educações".

Para Raquel, que leciona no curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Pelotas (UCPel/RS), ainda há muita resistência ao uso das redes em sala de aula e uma falta de compreensão do potencial educativo das novas tecnologias, mesmo nos meios acadêmicos. "Eu vejo que em muitas universidades o acesso a toda ferramenta social é proibido. Não pode usar MSN, Google Talk, só pode acessar o e-mail, quando, na verdade, existem ali tantas possibilidades de criação, de interação que são construtivas e que podem ser usadas para construir coisas e para se aprender coletivamente... Basta as iniciativas serem criativas e as pessoas aprenderem modos de usar isso melhor", acredita. "Se pensa ‘o Orkut é ruim, é pornografia, ninguém pode entrar'. Não é. Tem muitas coisas que aparecem ali, tem muitas formas de inclusão digital, linguagens, signos, sentidos, práticas sociais e isso pode ser incorporado na educação", pontua.

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