quinta-feira, 13 de março de 2014
Banquete no palácio - eu e Maria Ferreira de Araujo Nunes, minha avó
Anteontem, minha mãe, Rosamaria Araujo Nunes, homenageou o nascimento da minha vó, Maria Ferreira de Araujo Nunes. Moramos eu e ela em Livramento, na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Sempre em quartos de hotel, pensões e cantinhos cedidos. Daí a minha alma errante, o desapego da propriedade e o conhecimento de causa da sobrevivência às custas da aposentadoria. Transformávamos estes lugares em nosso Taj Mahal, pelo menos eu na hábil imaginação de quem tinha 5 a 10 anos.
Todo dia 1º havia festa no paraíso. Ela recebia e comprávamos uma galinha assada [no meu mundo, frango se chama galinha], radiante e garbosa [gorda]. Nas três semanas seguintes muitas bolachas, chás e comedimentos gastronômicos. Minha avó passava o tempo a fazer lindas flores de tecido, para complementar a renda, e eu a filosofar com as formigas, inquirindo-as dos mistérios da existência. Fazia as mesmas indagações de Hamlet, mas na porta do formigueiro.
Um belo dia tomei conhecimento do significado da palavra epifania. Notei aquele caderno largado à mesa e me aproximei. Abri-o e naquele momento fui ofuscado por uma luz inominável, como bem sabem Moisés e Maomé. Havia descoberto a letra mais linda do universo: a da minha avó. Toda vez quando recordo da dona Maria vem-me esta recordação e sinto vontade de chorar. E choro, só pra mim, e para ela.
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