terça-feira, 24 de junho de 2008

E-presídio: pasc.money.rs


Detentos da Pasc estão conectados

Apenados compram celulares e drogas, trocam e-mails e fotos por aparelhos com tabela de preços

JOANA COLUSSI e PAULO ROBERTO TAVARES

Nas últimos semanas, repórteres do Correio do Povo trocaram e-mails com detentos da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Nas mensagens, os presidiários apresentam um suposto esquema montado por agentes penitenciários, que estariam abastecendo os presos com aparelhos de telefone celular e drogas. Os detentos enviaram para o jornal fotos tiradas de dentro da casa prisional.

Dono de um celular com acesso à Internet, um deles envia as mensagens pelo seu endereço eletrônico... @yahoo.com.br (a primeira parte do endereço foi suprimida). O detento entrou em contato com a reportagem no final de 2007. A partir daí, começou uma troca de mensagens, geralmente no horário noturno, em que ele – e outros presos – aceitou conceder a entrevista. Em princípio, descreveu o dia-a-dia da prisão e, em uma das últimas mensagens, contou sobre o suposto esquema de contrabando de telefones e drogas.

Conforme ele, um agente penitenciário seria o fornecedor dos aparelhos. Cada celular seria vendido por R$ 1,2 mil, preço que incluiria o carregador. Sem esta peça, a mercadoria ganha um desconto de R$ 200,00. Um outro agente seria o responsável pela venda de drogas – maconha e crack –, dentro da casa prisional. 'O guarda traz um tijolo de maconha e um detento fica encarregado de arrecadar o dinheiro', contou. 'O preso joga um pacote com, em média, R$ 100,00 a R$ 300,00 e o agente envia a droga conforme a arrecadação'. De acordo com este preso, cada cigarro de maconha ou pedra de crack é vendida a R$ 10.00.

Em meio às informações passadas por e-mail, o detento faz questão de salientar que é uma minoria de agentes que age desta forma. Segundo ele, o diretor da casa, Vanderlei de Christo, não sabe do esquema. 'Os agentes têm mais facilidades de passar este tipo de coisa', conta. 'Pode ter certeza de que o esquema começou quando colocaram a pessoa que vende os celulares em um cargo alto'. Além disso, os presos lamentam o fato de não haver um 'orelhão' nos corredores das galerias, como no Presídio Central, em Porto Alegre, o que poderia diminuir o comércio ilegal, na visão dos presidiários.

Os números da própria Susepe indicam que o esquema pode ser verdadeiro. Somente neste ano, de janeiro a maio, foram apreendidos 144 celulares – mais do que a metade do que foi descoberto em todo ano passado: 259 aparelhos. Do total de telefones apreendidos nos primeiros cinco meses deste ano, apenas 12 foram pegos com os visitantes. O restante estava nas celas. Quanto ao tráfico de maconha, em 2007 foram apreendidos 472 gramas da droga e, neste ano, de janeiro a maio, foram 426,3 gramas, quantidade quase igual a todo o ano anterior.

A Pasc conta, atualmente, com dez detectores de metais do tipo raquete (manuais) e cinco portais, onde ocorrem as apreensões, antes de as visitas chegarem nas áreas reservadas aos presos.

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