sexta-feira, 19 de dezembro de 2008







O dia em que o tira-gosto foi um grito

Moacir Japiassu (*)

Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

(Affonso Romano de Sant'Anna in A implosão da mentira)

O dia em que o tira-gosto foi um grito
Manchete da Folha Online:

Oito em cada dez brasileiros nunca ouviram falar do AI-5

Como era sábado, 13/12, dia de razoável folga aqui no sítio, Janistraquis abandonou o computador e saiu para tomar uma cachaça acompanhado do colunista.

"Considerado, o tira-gosto vai ser um grito", avisou ele.

Então, entornamos uma garrafa inteira, presente do José Alberto da Fonseca, e a cada gole gritávamos ao vento:

"C..................ARAAAAALHOOOOO!!!!"

Oito em cada dez brasileiros nunca ouviram falar do AI-5. O presidente-preferência-nacional tem razão: só bebendo, e bebendo muito, é possível suportar o país de m... em que vivemos.

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A Implosão da mentira
Leia aqui a íntegra do excepcional e histórico poema cujo excerto encima a coluna. Se ninguém lhe revelasse o ano da luz (1980), muitos o teriam por composto hoje de manhã. “Não se chega à verdade pela mentira, nem à democracia pela ditadura”, diz outro de seus versos.

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Causa mortis
Janistraquis, que de vez em quando dá uma olhada em A Favorita, me avisou lá do escritório:

“Considerado, o Instituto Médico Legal acaba de divulgar o laudo cadavérico do Doutor Gonçalo! Tá escrito aqui: causa mortis, burrice.”

O patriarca da família Fontini fora, aparentemente, vítima das artes de Flora, a vilã-super-hiper da novela; porém, se o IML diz que o homem morreu de burrice não somos nós que vamos contrariar os legistas

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Coronel Lula
Veterano e honesto político nordestino (os há, os há), amigo do colunista há mais de 40 anos, escreve para dizer que, com os mais de 80% de aprovação naquelas bandas, o presidente já pode, pelo menos moralmente, fazer parte daquelas oligarquias que criaram a Guarda Nacional e se transformar, definitivamente, em Coronel Lula, senhor do mais vasto curral eleitoral da história política do Brasil.

Falou-se em coronel e Janistraquis recordou imediatamente o mais famoso deles, Chico Heráclio do Rêgo, de Limoeiro, sertão de Pernambuco. Na orelha do excelente livro escrito pelo sobrinho-neto do coronel, André Heráclio do Rêgo, intitulado Família e Coronelismo no Brasil e editado pela Girafa, escreveu o jornalista, poeta e romancista José Nêumanne Pinto:

Um dos clássicos do folclore político nacional selecionado pelo jornalista
baiano Sebastião Nery é o causo, segundo ele verídico, protagonizado
pelo coronel Chico Heráclio do Rêgo, de Limoeiro, interior de Pernambuco.
À época do episódio, votava-se em cédulas impressas postas pelo eleitor
num envelope que, lacrado e assinado pelos mesários, este depositava na
urna.

0 coronel em questão reuniu seus moradores, mandou que ficassem
em fila indiana e lhes entregou, um a um os envelopes lacrados com
as cédulas dos candidatos sufragados. Aí era só ir à seção eleitoral, pegar as
assinaturas dos mesários e votar.

Votar? Pois é! Um cabra mais ousado resolveu perguntar: "0 senhor pode
me dizer pelo menos em quem eu vou votar, coronel?" A resposta foi ríspida e rápida: "Então, cabra ignorante, tu não sabes que o voto é secreto?"

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Nahum Sirotsky
O considerado Camilo Viana, um dos mais antigos e queridos amigos de Nahum Sirotsky, criador daquela fantástica Senhor do início dos anos 60, envia perfil desse jornalista histórico, publicado na revista Imprensa. À mensagem com a matéria anexada, Camilo acrescentou esta frase: “Conheces Nahum? És um privilegiado.”

O colunista é um dos privilegiados, pois também cultiva a amizade de Nahum há mais de 40 anos e com ele teve a honra de trabalhar no Jornal do Brasil. Leia aqui a íntegra do texto que revela aos jovens um extraordinário profissional, desses que não existem mais.

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Excesso, não!
Sob o título Livre escolha -- Para chefe do MP-SP, promotor pode usar arma que quiser, Janistraquis leu no indispensável Consultor Jurídico:

(...) figura como réu o promotor Pedro Baracat Guimarães Pereira, acusado de matar com 10 tiros o motoqueiro Firmino Barbosa. Os disparos saíram de uma pistola calibre 9 milímetros, de uso restrito. Segundo Pereira, em legítima defesa. Grella denunciou Baracat apenas por excesso de legítima defesa, e não por porte de arma de uso restrito.

Fiquei impressionado com o tal “excesso de legítima defesa”, pois sempre pensei que fosse impossível medir-se uma reação instantânea e involuntária, porém meu assistente interpretou a curiosa expressão:

“Considerado, excesso de legítima defesa só acontece quando, ao reagir a uma agressão, você dá 10 tiros na cara do agressor que merecia simplesmente um pontapé na bunda.”

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Ceilândia
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre o aperreamento é inevitável escutar ecos dos sempre insuportáveis discursos do presidente-preferência-nacional, pois Roldão encarou o computador e escreveu esta mensagem à direção do Correio Braziliense:

A legenda da foto do "ISTO É BRASÍLIA" deste domingo explica a origem do nome Ceilândia e diz que o sufixo "land" é de origem norte-americana. Gostaria de lembrar que a língua dos EUA é o inglês e, portanto, o sufixo é de origem inglesa.

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Sapataria
O considerado José Truda Júnior, que gastou muitos solados nessa caminhada pela vida afora, pondera os últimos acontecimentos internacionais e despacha de seu minarete de Santa Teresa:

É de doer o jeito com que as autoridades tratam os jornalistas credenciados a entrevistar presidentes americanos em visita-surpresa ao Iraque. O jornalista Muntadhar al-Zeidi, que teve um braço quebrado, levou uma coronhada na nuca e quase ficou caolho que o diga. Mas a pergunta que não quer calar é:

- Quem ficou com os sapatos voadores?

A essa altura, cada pé deve valer mais do que uma sapataria inteira!

Segundo informa Janistraquis, já apareceu um xeique para oferecer dez milhões de dólares pelos famosos mocassins. É muito mais do que uma sapataria inteira.

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Período fértil
Estimulante chamadinha na capa do UOL:

Mulheres em período fértil são mais propensas a dar o telefone

Janistraquis leu, pensou um pouco e ejaculou:

“Engraçado, considerado, sempre pensei que as mulheres em período fértil dessem outra coisa...”

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Joaquins
Deu no Erramos da Folha de S. Paulo:

OPINIÃO (8.DEZ, PÁG. A3) O nome completo do escritor Machado de Assis é Joaquim Maria Machado de Assis, e não Joaquim Aurélio Machado de Assis, como estava no artigo "Machado, cultura e política".

Recordei logo aquele erramos de Janistraquis, no tempo em que era editor de jornal em Caruaru:

"Joaquim José da Silva Xavier não é o Duque de Caxias."

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Desgraça Para Todos
Por força de ignorância tsunâmica, somente agora, no aniversário de 40 anos daquele lixo que se abateu sobre a nação, o colunista ficou sabendo que existe em Brasília uma ponte chamada Costa e Silva; estranhei a “homenagem” àquela alimária, porém Janistraquis achou-a normal e justa:

“Considerado, não se pode esquecer que Costa e Silva construiu a ponte entre a falsa democracia de Castelo Branco e a ditadura explícita que se seguiu, à qual devemos o prelúdio do golberismo acadêmico e do lulismo de curso primário.”

Diante disso, cheguei à conclusão de que uma ponte é muito pouco, é quase nada diante da formidável sucessão de desgraças.

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Nota dez
O considerado Mestre Mauro Santayana escreveu no Jornal do Brasil:

Para muitos dos que vivem no resto do país, a Amazônia parece tão distante quanto os desertos africanos. Os brasileiros de modo geral não recebem informações suficientes sobre a região. Para o Brasil é uma questão de honra a plena soberania sobre a totalidade de seu território.

(...) Os madeireiros e garimpeiros, muitos associados a espertíssimos índios e a compradores estrangeiros, hoje devastam a floresta e poluem suas águas. As organizações não-governamentais, quando não se encontram diretamente subordinadas aos financiadores estrangeiros, quase sempre são grupos de parasitas, que vivem de dinheiro público. Neste mesmo espaço comentamos, há alguns meses, que só os índios da Amazônia despertam os corações e mentes dessas ONGs: os indígenas de Mato Grosso do Sul, quando não se suicidam, morrem de doenças banais e de desnutrição, sem que esses abnegados filantropos ali apareçam.

Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo que aponta e ilumina o caminho das pedras.

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Errei, sim!
FUNDO PERDIDO -- Deu no jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte, debaixo do título Estado repassa verbas para assentar famílias: "(...) Não foi estipulado pela prefeitura de Neves o prazo para assentamento
definitivo das famílias. O prefeito informou que viaja hoje para Brasília em busca de um fundo perdido no Ministério da Ação Social, verba que, se encontrada, será usada para compra de material".

Segundo meu secretário Janistraquis, recém-promovido a assistente, hoje em dia não se faz jornalismo como dantes, quando qualquer repórter sabia que uma verba a fundo perdido não está, obrigatoriamente, escondida, esquecida, abandonada. (janeiro de 1995)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada “Carta a Uma Paixão Definitiva”.

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