sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Uma revista acadêmica para a graduação


Revista Anagrama – Revista Interdisciplinar da Graduação
Ano 2 - Edição 2– Dezembro de 2008/Fevereiro de 2009
Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, 443, Cidade Universitária, São Paulo, CEP: 05508-900
anagrama@usp.br

http://www.usp.br/anagrama/index.htm

Editorial

Tal como Muniz Sodré coloca, a midiatização é uma nova forma de bios –
relacionada com a classificação aristotélica das formas da vida –, uma nova tecnologia de
sociabilidade. Assim, há um avanço, para o pesquisador, das Ciências da Comunicação
como uma forma de problematização das “mutações culturais da sociedade
contemporânea” e das tensões entre o comunitário e o societário.
Assim, o “pensar a mídia” se torna cada vez mais independente de um pensamento
social generalista que acredita que a Comunicação Social é um mero instrumento, um
objeto de pesquisa entre outros. Portanto, além de buscarmos epistemologias, precisamos
incentivar os graduandos a terem o interesse pela investigação acadêmica. Dessa forma, a
revista Anagrama acredita estar fazendo a sua parte ao publicar 16 interessantes textos em
7 campos da Comunicação Social, produzidos por graduandos de diversas instituições
brasileiras.

No campo das interfaces políticas da Comunicação Social, publicamos quatro
artigos de grande interesse. Em A Interpretação do Gigante: jornalismo e política em
“Veja”, as autoras – Aline Vogt, Camilla Milder, Franciele Fonseca e Caroline Casali –
discutem a relação entre a política e o jornalismo da revista Veja através do discurso dessa
mídia impressa sobre o caso Renan Calheiros. A análise demonstra, em geral, que a revista,
ao tratar de política, apresenta um discurso marcado pela subjetividade, evocada pelo uso
de adjetivações e autoreferências.

Já em Primavera dos Jornais: imprensa e revoluções de 1848, Rafael Duarte
Oliveira Venancio nos apresenta um breve resumo histórico das Revoluções de 1848,
dando destaque à participação da imprensa na luta revolucionária, abordando os
movimentos revoltosos ocorridos na França, Estados Alemães, Sicília & Estados Italianos,
Áustria, Hungria e Brasil.

Cassandra Reis, Maiqui Freistrecker, Juliana Campos Chaves e Vanessa Reis, no
artigo Blogs de Política do “O Globo Online”: o desenvolvimento da pauta jornalística,
discutem como os blogs de política do jornal O Globo Online são pautados e como eles
pautam o portal. Os principais fatores observados foram: independência editorial dos
assuntos publicados, linguagem, periodicidade e qualidade das informações.
Para encerrar, na resenha de nossa edição, Eliza Bachega Casadei versa sobre o
livro Pages From the Past, de Carolyn Kitch, no texto intitulado O Passado nas Páginas
das Revistas Norte-americanas: a invenção das identidades a partir da evocação dos laços
comunais. Para a autora do livro em questão, as revistas publicadas nos Estados Unidos
fornecem uma visão unificada e patriótica do passado nacional, contribuindo, com isso,
para a criação e afirmação da identidade estadunidense.

No campo dos Estudos de Teatro, apresentamos também quatro artigos. Guilherme
Dearo, em O Teatro Político de Gianfrancesco Guarnieri sob a Censura, mostra as
particularidades das interdições perante um discurso teatral crítico e politizado, tal aquele
praticado pelo dramaturgo em questão.

Já Carolina Oms, com Nelson Rodrigues e a Censura Teatral, mostra a questão da
censura moral no âmbito das peças de Teatro. A autora lembra que Nelson Rodrigues foi
sistematicamente censurado, seja nos jornais, nas peças, nos livros ou nas novelas.
Em A Sexualidade Vigiada, Carolina Rossetti de Toledo procura entender a lógica
da atuação da censura teatral sobre as questões da sexualidade. Para isso, a autora utiliza os
processos de censura, contidos no Arquivo Miroel Silveira, de O Irresistível Roberto e Me
Leva Meu Bem, peças de autoria de Joracy Camargo.

Para finalizar, Marina Fumie Yamaoka, com o artigo Heranças de Alfredo
Mesquita, Bases de Jorge Andrade, busca demonstrar de que forma o trabalho de Alfredo
Mesquita; as fundações da Escola de Artes Dramáticas, do Teatro de Arena e do Teatro
Brasileiro de Comédia; e sua atuação como autor, professor, tradutor e diretor
influenciaram o trabalho como dramaturgo de Jorge Andrade.

No campo das interfaces literárias da Comunicação Social, a Revista Anagrama
publica três artigos. O artigo Entre a Ficção e a História: um passeio pelas cidades com
Ítalo Calvino e Marco Polo – de autoria de Tatiane Aparecida da Silva Severino e Wania
Aparecida Guedes da Silva – verifica como se configura a reapropriação temática e
estrutural de Il milione (1298), de Marco Polo, realizada por Ítalo Calvino em Le cittá
invisibili (1972).

Já Luis Nakajo, em De espelhos e de marcas: a literatura de não-ficção, analisa os
processos epistemológicos que perpassam a narrativa de não-ficção. Colocando a obra de
Tom Wolfe em perspectiva, o autor parte da enganosa metáfora de “espelho da realidade”,
articulando os conceitos de intelecto, conversação e leitura birreferencial.
Por fim, o artigo O Jornalismo Fala a Si Mesmo: padrões discursivos em livros
sobre a prática da notícia e da reportagem, de Flávia Souza de Siqueira, busca apontar
padrões discursivos em três livros de jornalistas sobre a prática da notícia e da reportagem.
Analisando os livros A prática da reportagem, de Ricardo Kotscho, A arte de fazer um
jornal diário, de Ricardo Noblat, e Repórteres, organizado por Audálio Dantas, a autora
identifica amostras de um discurso mais amplo e disciplinador, que busca estabelecer os
critérios de acesso à profissão.

No campo dos Estudos da Televisão, a Anagrama apresenta dois artigos. Luara
Krasnievicz, Pricila Aparecida Aita e Caroline Casali, com o artigo Domingo (nada)
Legal: mapeamento do sensacionalismo em programas de auditório, apresentam um
mapeamento das estratégias discursivas usadas no programa Domingo Legal. A partir da
investigação empreendida, as autoras evidenciam o uso de situações rotineiras e pessoas
comuns para criar verdadeiros espetáculos midiáticos, visando conquistar – e manter – os
telespectadores.

Por sua vez, Vanessa Costa Trindade, em “Eu aumento, mas não invento”:
interesse público x interesse do público no “TV Fama”, discute os limites entre o público e
o privado nos programas televisivos de fofocas sobre celebridades, buscando verificar as
tensões estabelecidas entre interesse público e interesse do público.

No campo dos Estudos do Rádio, a presente edição possui um artigo. Intitulado
Histórias de outros carnavais: a construção da história da música popular brasileira na
narrativa radiofônica de Almirante, o texto de Giuliana Souza de Lima busca um estudo
das séries produzidas por Almirante – Carnaval Antigo (1946) e Histórias do Nosso
Carnaval (1952). Elas sintetizam e fundem muitos dos aspectos que assinalaram o
conjunto da obra do músico, apontando tanto para os programas educativos, que aí
assumem um caráter folclorizante, como para as realizações que indicam a consolidação de
uma indústria cultural.

No campo dos Estudos do Cinema, a Anagrama também publica um artigo. Julio
César Lourenço, em Os conflitos de Carlitos frente às contradições da sociedade moderna,
discute a inadequação do personagem de Charles Chaplin ao ideário de uma sociedade
liberal fragmentada e tecnicista que nos oferece um exercício de estranhamento de nossa
própria cultura.

Para finalizar a presente edição, há um artigo no campo das interfaces lingüísticas
da Comunicação Social. Cibele Terezinha de Paula Sobral, Luciana Duarte Baraldi e
Vanessa dos Santos Marques, em Uma abordagem funcionalista no estudo do item
“ocorre que”, pretendem analisar o item “ocorre que” por meio de uma perspectiva
funcionalista do estudo da linguagem, já que essa corrente preocupa-se em verificar o
modo como a língua é utilizada por seus falantes no ato de comunicação como ferramenta
para alcançar suas intenções no momento da enunciação. Assim, as autoras buscam
identificar os estágios dos processos de gramaticalização pelos quais o presente objeto de
estudo está passando.

Esperamos que a presente edição da revista Anagrama não signifique apenas um
passo na carreira dos autores, mas sim um exercício de divulgação de pesquisas para seus
pares e para a sociedade em geral. Uma boa leitura a todos.

Os Editores


ARTIGOS

A Interpretação do Gigante: jornalismo e política em Veja
Aline Vogt, Camila Milder, Franciele Fonseca, Caroline Casali (CESNORS/UFSM)

Nelson Rodrigues e a Censura Teatral
Carolina Oms (ECA/USP)

A Sexualidade Vigiada
Carolina Rossetti de Toledo (ECA/USP)

Blogs de Política de O Globo Online: o desenvolvimento da pauta jornalística
Cassandra Reis, Maiqui Freilstrecker, Juliana Campos Chaves, Vanessa Reis (Unisinos)

Uma Abordagem Funcionalista no Estudo do Item "ocorre que"
Cibele Terezinha de Paula Sobral, Luciana Duarte Baraldi, Vanessa dos Santos Marques (FFLCH/USP)

O Jornalismo Fala a si Mesmo: padrões discursivos em livros sobre a prática da notícia e da reportagem
Flávia Souza de Siqueira (ECA/USP)

Histórias de Outros Carnavais: a construção da história da música popular brasileira na narrativa radiofônica de Almirante
Giuliana Souza de Lima (FFLCH/USP)

O Teatro Político de Gianfrancesco Guarnieri sob a Censura
Guilherme Dearo Vieira Santos (ECA/USP)

Os Conflitos de Carlitos Frente às Contradições da Sociedade Moderna
Julio César Lourenço (UEM)

Domingo (nada) Legal: mapeamento do sensacionalismo em programas de auditório
Luara Krasnievicz, Pricila Aparecida Aita, Caroline Casali (CESNORS/UFSM)

De Espelhos e de Marcas: a literatura de não-ficção
Luis Nakajo (ECA/USP)

Heranças de Alfredo Mesquita, Bases de Jorge Andrade
Marina Fumie Yamaoka (ECA/USP)

Primavera dos Jornais: imprensa e revoluções de 1848
Rafael Duarte Oliveira Venancio (ECA/USP)

Entre a Ficção e a História: um passeio pelas cidades com Ítalo Calvino e Marco Polo
Tatiane Aparecida da Silva Severino, Wania Aparecida Guedes da Silva (FFLCH/USP)

"Eu Aumento, mas não Invento": interesse público x interesse do público no TV Fama
Vanessa Costa Trindade (UFMG)


RESENHA
O Passado nas Páginas das Revistas Norte-americanas: a invenção das identidades a partir da evocação dos laços comunais
Eliza Bachega Casadei (ECA/USP )

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