sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O que aquele ônibus está fazendo?




O testemunho da tragédia

Equipe do Correio do Povo testemunhou o acidente que matou duas pessoas, feriu pelo menos 15 e causou pavor e pânico no Centro de Porto Alegre

Textos e depoimento: Mirella Poyastro
Fotos: Alexandre Mendez

A tragédia com o ônibus desgovernado, ocorrida na manhã de ontem em uma das avenidas mais movimentadas do Centro de Porto Alegre, poderia ter sido muito pior se a cidade não estivesse em ritmo de férias de verão. Mesmo assim, em fração de segundos, duas pessoas morreram atropeladas e pelo menos 15 ficaram feridas. Eu já fiz coberturas envolvendo acidentes de trânsito e aéreos, inundações, estiagens, incêndios, rebeliões em penitenciárias, resgates e vários dramas do cotidiano desde 1994, quando comecei 'foca' como repórter do Correio do Povo. Mas, sem dúvida, presenciar o acidente de ontem foi a experiência mais terrível e assustadora que já vivenciei.
Agora tenho a certeza que um antigo ditado citado por meu pai é real: 'Para morrer, basta estar vivo'. Isto foi o que aconteceu com as duas vítimas, a mãe e a filha, que foram atropeladas pelo ônibus e tiveram morte instantânea. Elas estavam atravessando a rua Coronel Vicente na faixa de segurança, quando perderam suas vidas.
Foi também por segundos que eu e meus colegas de equipe, o fotógrafo Alexandre Mendez e o motorista André Luiz Diniz da Rosa, escapamos da morte. Em meio a uma reportagem, rodávamos na pista da esquerda da avenida Júlio de Castilhos, quando tudo aconteceu. 'Nossa sorte é que a gente estava em baixa velocidade, procurando um número', desabafou André Rosa, depois do ocorrido.
E foi porque estava procurando o número de um prédio que olhei para o lado direito da Júlio, quando vi, às 10h19min, um ônibus azul-claro da empresa Transcal subindo o canteiro que divide a faixa dos coletivos a, no máximo, 30 metros à frente do nosso carro. Gritei: 'O que aquele ônibus está fazendo?'. Foi o tempo que o veículo levou para cruzar as quatro faixas da avenida, esmagando tudo que tinha pela frente sem frear. No curto trajeto, o ônibus levou postes e fios de energia, um telefone público foi esmagado, placas de sinalização foram derrubadas e pessoas atropeladas em cima da faixa de segurança. O coletivo só parou quando se chocou com o edifício da esquina da Júlio com a Coronel Vicente.
'Meu Deus, que horror.' Foi o que consegui dizer. Tudo aconteceu em fração de segundos, como um filme que passa no telão do cinema. Apesar da sensação de pânico que atingiu todos dentro do carro, Mendez pulou para fora do veículo e eu saí atrás, pedindo para o André Rosa ligar para a Samu. E as expressões de pânico e terror estavam nos rostos das pessoas que, como nós, viram toda a tragédia, sem conseguir entender o que aconteceu. 'O motorista só pode ter tido um mal súbito.'
A pior imagem foi ver os corpos das duas mulheres estirados no asfalto da Coronel Vicente, ao lado do ônibus. Pedaços de cérebro no chão evidenciavam que nada mais poderia ser feito por elas. Minhas pernas tremeram. Senti um calorão. Pensei que ia desmaiar. Mas a movimentação de curiosos, retirada de feridos de dentro do ônibus, veículos buzinando (se iniciava um longo congestionamento), fizeram com que eu voltasse a agir e, literalmente, trabalhar.
Acompanhamos a iniciativa de populares em ajudar os feridos, e a chegada, nesta ordem, da Brigada Militar, EPTC, Samu e bombeiros. E, aqui, gostaria de fazer justiça aos profissionais que atuaram na ocorrência. É difícil precisar o tempo nestes casos de pânico coletivo gerado em tragédias inesperadas. Repito: segundos parecem durar uma eternidade. No entanto, tenho a impressão que do momento do choque até a chegada da BM, não se passaram nem três minutos. Quase em seguida chegaram duas equipes da EPTC. E dois minutos depois, no máximo, chegou pela contramão a primeira das três ambulâncias da Samu.
Os bombeiros chegaram em seguida. Já estavam lá quando o ônibus começou a pegar fogo. Entre a batida e o início do incêndio que causou a completa destruição do ônibus passaram-se mais de dez minutos. Foi o esforço dos bombeiros que impediu que o fogo se alastrasse para os prédios vizinhos. Até porque, exatamente do outro lado da rua, há um posto de combustíveis, de onde acompanhamos todo o trabalho de resgate e socorro.
Muitos populares ajudaram com extintores de incêndio de edifícios, estabelecimentos comerciais da redondeza e até dos carros que pararam para tentar prestar algum socorro. Infelizmente, no esforço de salvar vidas, socorrer feridos e apagar o incêndio, os corpos das duas vítimas não foram retirados do asfalto e acabaram sendo queimados junto com a lataria do coletivo, quando o fogo se propagou.


10h20 - Após cruzar as quatro faixas da avenida Júlio de Castilhos, atropelar e matar Magda Machado Matos, 45 anos, e a filha Daniela, 14 anos, o ônibus prefixo 24152 da empresa Transcal, linha Morada do Vale, colide no prédio localizado na esquina da Júlio com a rua Coronel Vicente











10h22 - Populares que presenciaram o acidente tentaram ajudar. O que mais se via era gente falando ao celular, pedindo socorro. O desespero de quem estava próximo da tragédia era evidente, como este rapaz que estava ao lado de Thiago Machado Matos, 20 anos, atropelado e ferido

10h23 - O cenário era chocante. Atropelado e ferido, o pai e marido de Daniela e Magda, Carlos Alberto da Silva Matos, 47 anos, constata atônito, ainda no chão, a morte dos familiares. Pedaços dos corpos estavam espalhados pelo asfalto, sem deixar dúvidas da fatalidade



10h32 - A foto registra o exato momento em que o ônibus incendeia totalmente, causando altas chamas e chamuscando as janelas e paredes dos prédios no entorno . O calor intenso foi sentido até do outro lado da rua, no posto de gasolina













10h33 - Os bombeiros chegaram um pouco antes de o incêndio começar, mas foram surpreendidos pela intensidade das chamas logo a seguir, tendo muito trabalho para combatê-las. O fogo se alastrou pelo chão e atingiu o corpo da mãe e da filha

3 comentários:

Anônimo disse...

Fiquei chocado quando vi a reportagem no Jormal do Almoço (Globo). Quando as coisas acontecem fora do Brasil ou em locais que não conhecemos, pouco damos importância, mas quando uma trágico acidente como esses acontece em locais onde já estivemos... o sentimento muda. Sem palavras para descrever o senti quando vi as imagens... um horror. Não vou dizer que você teve sorte em estar no local (repórter), mas digo que eu não gostaria de estar no seu lugar... ver essas imagens em fotos é uma coisa, mas estar presente no local e ver tudo acontecer em segundos.. é uma coisa totalmente diferente.

Sem mais.

Anônimo disse...

estava passando no momento no honibus otto perimetral e oque vi foi coisa de filme de terror, nossa ver aquelas pessoas sofrendo e nao poder ajudar foi horrivel rezo pelas pessoas q ainda estao entre nos

Anônimo disse...

Ver essas imagens dói muito pois eu conheço afamília e lembro o quanto era unida, eu era amiga da Daniela viviamos juntas saber que ela e a tia magda morreram foi um choque muito grande principalmente porque eu estava lá não sei se um dia vou me recuperar com tanta coisa que aconteceu pelo menos o thiago está bem e o tio carlos se recuperando, mais eu nunca vou esquecer a Dany e nada vai diminuir a saudade que eu sinto dela e da magda.