quinta-feira, 6 de novembro de 2008







Obama de todos os inocentes

Moacir Japiassu (*)

Era eu que estava
oculto sob o
manto da rainha
(Nei Duclós in Clepsidra)

Obama de todos os inocentes
Textinho extraído da coluna de Clóvis Rossi na Folha de S. Paulo:

O problema é que "os EUA aparentemente estão para eleger o mais inexperiente, menos testado e menos conhecido candidato que jamais concorreu ao cargo", como escreveu ontem Janet Daley, do "Daily Telegraph".

A criatura está mais do que eleita; ascendeu, está ungida, consagrada, como se viu na constrangedora cobertura, principalmente televisiva. Esperemos pois o bicho que vai dar, pois é grande a certeza do mundo inteiro num governo “novo”, capaz de salvar a humanidade. No Brasil a festa da vitória tem sido tão exagerada que Janistraquis se lembrou de Fernando Collor e ao colunista assaltou o espectro da viagem inaugural do Titanic, se me permitem esse iceberg de pessimismo rétro.

A propósito, a confirmação da vitória desse representante da elite negra americana derrubou as bolsas de valores, fenômeno que provocou o seguinte comentário de Denise Campos de Toledo na rádio Jovem Pan:

“As bolsas sobem no boato e caem no fato.”

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Falta de educação
Ao noticiar a morte de Rosani Cunha, secretária de Renda da Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social, em acidente de carro na Argentina, a Folha Online escreveu:

Uma das responsáveis pelo Bolsa Família, convidada de um encontro sobre desenvolvimento social, era uma das palestrantes do evento "Diálogos de Proteção Social", organizado pelo Cippec (Centro de Implementação de Políticas Públicas), na capital argentina.

(...) Especialista em Saúde Pública e Administração Pública, Cunha integrava o governo federal desde o início de 2000.

Janistraquis pertence a uma geração que respeita as mulheres e abomina essa forma de identificá-las pelo sobrenome:

“Os jornalistas têm enorme capacidade de assimilar qualquer besteira exótica; chamar a secretária de ‘Cunha’ é de uma deselegância impressionante; trata-se, no mínimo, de falta de educação. O redator está, todavia, convencidíssimo de que escreveu apenas uma notícia, não quis acometer ninguém.”

Esse americanismo vicejou nas páginas de Veja, influenciou muita gente boa de tantos outros endereços, e assim as mulheres passaram a ser tratadas como jogadores de futebol: Pereira, Machado, Nogueira, Silva, Varejão...

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Os Lulasíadas
O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, vizinha do Palácio da Liberdade onde Aécio tenta se convencer de que ganhou a eleição para a prefeitura da capital, pois Camilo nos despacha um poema épico intitulado Os Lulasíadas, o qual abriga inspirados versos como estes:

Os votos e os ladrões assinalados
Que do nordeste agreste lulistano
Por artifícios nunca d'antes perpetrados
Passaram inda além das maracutaias,
Sem perigos e guerras esforçados
De quem vive na política gandaia
E da gente humilde afanaram
A grana com que tanto enricaram...

Leia no Blogstraquis a íntegra dessa obra-prima, cujo autor preferiu, por humilíssima discrição, abdicar das glórias do Olimpo.

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Confiança zero
Saiu na coluna do Claudio Humberto:

Fusão dos bancos brasileiros Itaú e Unibanco foi surpresa ao presidente Lula que só foi informado na véspera do acordo.

Janistraquis comentou, com a seriedade habitual de um Larry Rohter:

“Se contam antes pra ele, depois da terceira dose de 51 o mundo inteiro iria saber.”

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Data venia
Revelação assustadora do Consultor Jurídico:

Com 437 advogados, Tozzini Freire é o maior escritório do país

Janistraquis tremeu na base e quase lhe veio o cu ao pé das calças, como dizem nossos irmãos d'além mar:

“Caramba, considerado; se todos eles se reunirem pra infernizar a vida dalgum vivente, o cara tá mais ferrado do que cachorro metido com ouriço-cacheiro!”

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Frase da semana
O considerado Carlos Leonam, jornalista carioca, envia a frase da semana, a qual não se refere à fusão entre Itaú e Unibanco:

Não sei o que vem pela frente...

Mas espero que venha pela frente,

porque atrás não cabe mais!

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Nei Duclós
Num fim de agosto sem nuvem, o que anuncia a lua que o poeta esqueceu que se escondia? Leia no Blogstraquis a íntegra dos belos versos cujo fragmento encima a coluna. Insere-se na coletânea intitulada Novíssimos Poemas.

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Z no lugar do S
O considerado Milton Coelho da Graça conta a briga de O Globo com a assessoria de imprensa da não menos considerada Ágata Messina por causa de uma troca de s por z; a assessoria contra-atacou e descobriu um erro de concordância na matéria do jornal.

Tudo por culpa de uma simples letra, porém Janistraquis lembra aquele genial anúncio comemorativo dos 100 anos da ABI e reforça a tese de que, se o assunto é o idioma, convém levar a sério até (ou principalmente) as vírgulas:

Vírgula pode ser uma pausa... ou não..
Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4..
2,34.

Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

A vírgula pode ser ofensiva.
Não quero comprar seu porco.
Não quero comprar, seu porco.

Uma vírgula muda tudo.

ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.

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Terceirona
Mesmo tendo festejado à tripa forra a heróica vitória sobre o Fluminense, Janistraquis anda de olho nos jogos da Segundona:

“É uma questão de prudência, considerado; nós vascaínos devemos conhecer os adversários que teremos em 2009 e, pelo que vi até agora, o Vasco não tem time pra ganhar de ninguém. Vou aproveitar pra acompanhar algumas partidas da Terceirona...”

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Quem é o pai?
Chamadinha na capa deste portal:

Eleitores dizem que imprensa americana ajudou vitória de Obama

Janistraquis se surpreendeu:

“Ora, ora, pensei que a vitória de Obama tivesse sido obra da imprensa brasileira!”

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Boa notícia
Bárbara Japiassu, a terceira netinha, nasceu em São Paulo. Chegou para fazer companhia a Carol e Duda e tornar menos pesada a velhice do colunista.

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O náilon e a guerra
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre o colonialismo é possível enxergar Lula et caterva a comemorar a vitória do seu candidato Obama, pois Roldão lia a Revista do Correio, do Correio Braziliense de 2 de novembro, quando deparou com a matéria intitulada: A era do estica e puxa - Geração Hi-Tech:

-- A fibra de náilon (poliamida) foi a primeira sintética criada, na década de 1930, pelo pesquisador americano Wallace Carothers. Era uma época de guerra. (...) Passado o conflito, por volta de 1940, essa fibra serviu para fazer meias, usadas por civis.

-- Nas décadas de 1940 e 1950, o poliéster , o acrílico e outras fibras foram introduzidas no mercado.

Roldão, que para azar dos jornalistas é químico aposentado e conhece os fenóis e cresóis desta vida, apontou falhas no texto:

As datas não estão corretas. A II Guerra Mundial começou em setembro de 1939 e durou até maio de 1945. A produção destas fibras para livre comercialização só ocorreu depois do seu final, nunca antes. Durante a guerra toda a produção se destinava ao esforço de guerra.

Carothers suicidou-se em 1937, logo depois de descobrir o náilon. A Du Pont continuou suas experiências. Quando as criações de bicho-da-seda mostraram-se insuficientes para atender a necessidade de fabricação de pára-quedas, o náilon foi então usado para esse fim, já na década de 1940. Seu uso civil foi para a fabricação de meias femininas, então de uso compulsório. As mulheres não ousavam sair à rua com as pernas nuas, mesmo com saias longas.

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Nota dez
O jornalista Larry Rohter, que durante anos foi correspondente no Brasil, teve seu livro Deu no New York Times publicado aqui; recebeu amistosa resenha de Veja, porém o considerado José Paulo Lanyi desaprova toda e qualquer benquerença ao autor e escreveu no Observatório da Imprensa:

Larry Rohter tornou-se nosso conhecido em 2004 por uma improvável conjunção de deméritos. Correspondente do New York Times no Brasil, ganhou os holofotes ao classificar o presidente Lula de ébrio, desses que bebem para esquecer e que, em seguida, bebem para lembrar, para então esquecer de novo e recomeçar do zero. O título em português daquela sua matéria: "Hábito de beber de Lula se torna preocupação nacional".

(...) A matéria tilintou mal para o repórter, que, sem o menor senso de proporção, guindara os bastidores à condição de fatos de interesse da massa. Saiu no NY Times, para desespero dos provincianos, como poderia ter sido nos britânicos The Sun ou Daily Mirror, dado o parentesco no tratamento jornalístico a uma questão dessa natureza.

Leia aqui a íntegra do artigo que tem dado o que falar.

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Errei, sim!
“ALÔ, ECONOMISTAS! – Previsão de Chico Anysio que interessa a todos, principalmente a jornalistas econômicos: ‘No Brasil, o fim do mundo será privatizado e até você chegar aos quintos dos infernos terá que pagar pedágio.” (setembro de 1996)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada “Carta a Uma Paixão Definitiva”.

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