Leandro Fortes e Sergio Lirio*
Daniel Dantas ergueu uma fortuna, ainda há quem bovinamente o descreva como um gênio das finanças, mas está claro que ele nunca chegará aos pés de Jorge Paulo Lemann, um financista que dá as cartas no mercado internacional. Não há registro de nenhuma idéia, obra, projeto, reflexão sua que lhe permita ombrear-se a grandes nomes do capitalismo brasileiro, como Antonio Ermírio de Moraes ou Olavo Setubal. Ao contrário. Ao longo dos últimos catorze anos, Dantas tem sido acusado de tantos e tão diversos crimes que sua turma está mais para a do Toninho da Barcelona e Edemar Cid Ferreira. Em países desenvolvidos, “empreendedores” da estirpe do banqueiro baiano costumam, cedo ou tarde, parar atrás das grades. No Brasil, e especificamente no caso do orelhudo, dá-se o fenômeno inverso. Dantas é o herói da República, seu chefe supremo.
Exagero? Juntem-se então alguns cacos do mais recente episódio que iniciou uma “crise” no Planalto Central, a história ainda mal contada do suposto grampo do telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, em conversa com o senador Demóstenes Torres, do ex-PFL de Goiás:
1. Mendes, o ministro dos dois habeas corpus que livraram Dantas, valeu-se de uma reportagem sem fundamento da revista Veja para alimentar uma pretensa crise institucional e chamar o presidente da República “às falas”.
2. O presidente Lula, cujo secretário particular, Gilberto Carvalho, apareceu em gravações da Operação Satiagraha, não só aceitou ser chamado “às falas” como se apressou em afastar do cargo o diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, mesmo sem nenhuma evidência de que o grampo, se realmente houve, tenha sido realizado pelo órgão de inteligência e com a anuência dos superiores.
3. Lacerda é um dos alvos preferenciais do banqueiro. Foi sob sua gestão na Polícia Federal que se desencadeou a Operação Chacal. Em conseqüência dessa ação, Dantas acabou réu por espionagem e formação de quadrilha. O delegado foi uma das vítimas do dossiê fajuto entregue à mesma Veja (coincidência?), com supostas contas de autoridades no exterior. Por esse crime, DD é réu por calúnia.
4. Um dos principais defensores do afastamento de Lacerda foi o ministro da Defesa, Nelson Jobim, amigo fraterno de Carlos Rodenburg, ex-cunhado de Dantas e um dos detidos na Satiagraha. Jobim tem sustentado a tese, rebatida pelo Exército e pela Abin, de que equipamentos de inteligência adquiridos recentemente podem grampear e não apenas rastrear grampos.
5. Ante o afastamento do superior, o delegado Renato Porciúncula também deixou a Abin. Porciúncula chefiava o departamento de inteligência da PF à época da Operação Chacal. Nos últimos dias, notas em jornais de grande circulação dão conta da abertura de investigações internas para saber se Porciúncula e o delegado Protógenes Queiroz usaram indevidamente automóveis apreendidos pela polícia. Protógenes, chefe da Satiagraha, acabou estranhamente afastado do inquérito há cerca de dois meses.
6. Para o lugar de Lacerda, o Planalto nomeia Wilson Trezza, ex-funcionário da Brasil Telecom à época em que a empresa era dirigida pelo Opportunity. Trezza foi subordinado de Humberto Braz, acusado de tentar subornar um delegado federal a mando do banqueiro.
7. A CPI das Escutas Telefônicas voltou a aprovar a quebra do sigilo de duas operações que envolvem diretamente Dantas: a Chacal e a Satiagraha. A comissão esmerou-se nos últimos tempos em convocar testemunhas de interesse do banqueiro. Se vivemos em um “Estado policial” e em uma “grampolândia”, por que a obsessão dos parlamentares da CPI pelas investigações que envolvem o dono do Opportunity?
* Colabrorou Filipe Coutinho
*Confira a íntegra desta reportagem na edição impressa
domingo, 7 de setembro de 2008
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