sexta-feira, 26 de setembro de 2008







O caso do escritor que não comeu a namorada

O considerado Fábio José de Mello, que construiu seu jardim das delícias em Descalvado, interior de São Paulo, exumou do site do Terra este mais-que-ousado título:

Escritor admite morte mas nega ter comido namorada

Janistraquis, que sempre foi muito respeitoso com as centenas de milhares de mulheres de sua vida dedicada ao dom-juanismo, correu a dar uma olhada na matéria e, dizendo-se aliviado, leu a quase esquecida notícia:

Um mexicano envolvido num caso de canibalismo admitiu hoje ter matado uma de suas namoradas e cozinhado os restos dela, mas afirmou que não comeu a carne da mulher, segundo a procuradoria do Distrito Federal (DF) do país.
(...) José Luis Calva Zepeda, chamado pela imprensa de "O Canibal de Guerrero" - nome da colônia (bairro) em que vivia - "não admite ter consumido a carne de Alejandra (Galeana Garavito)", de 30 anos e mãe de dois filhos.

O texto fez meu assistente recordar aquele episódio da tribo de índios que capturou, matou e cozinhou um missionário inglês. Único preso pela polícia que se embrenhou na selva, o pajé se declarou inocente, pois não havia comido um naco sequer do pobre homem; da panela, apenas bebera o caldo...
******

Uma coisa é uma coisa

O considerado Jayme Alves Baeta, advogado paulistano aposentado, envia de sua chácara em Cotia esta procedente crítica ao Jornal Nacional:

“O telejornal exibe uma série de reportagens para comparar condomínios a cidades e síndicos a prefeitos. Parece-me algo forçado porque, se alguns conjuntos residenciais abrigam realmente a população de uma vila do interior, suas necessidades estão longe de ser até mesmo parecidas; e eu, que morei 40 anos em São Paulo e passei por cinco endereços, jamais votaria naqueles síndicos para administrar nada além de um prédio de três andares...”.

Janistraquis e eu também temos visto as matérias do JN, ó Baeta, e concordamos com você: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa; e condomínio é condomínio, cidade é cidade; síndico é síndico e prefeito é prefeito.
******

Morrer de rir

Saiu na Folha Online a notícia que Janistraquis considerou a mais engraçada do ano; segue o texto, com ligeiro copidesque:

Jegue é preso em flagrante no Egito sob acusação de roubar espigas de milho.
O alimento estava em uma plantação que pertence a um instituto de pesquisa de agricultura na região do Delta do Nilo.
A prisão aconteceu após reclamação do diretor do instituto, que notou alguns buracos no milharal.
Um posto policial próximo à plantação foi acionado e, depois de avistar o jegue e seu dono, os policiais encaminharam os dois para a delegacia.
O bicho, que carregava a prova do crime nas costas, recebeu voz de prisão em flagrante e um juiz local determinou a pena de 24 horas de prisão para a dupla.
O dono do jegue escapou da detenção depois de pagar fiança equivalente a R$ 17.

(Meu assistente concluiu que o crime do jegue é inafiançável porque ele foi apanhado "com a boca na botija".)
******

O Brasil merece

Janistraquis leu por aí que, segundo apurou a pesquisa CNT/Sensus, o presidente da República recebeu avaliação positiva de 68,8% dos entrevistados, contra 6,8% que o avaliaram negativamente; 23,2% avaliaram o governo como regular.
Meu secretário concluiu que, se verdadeiros, tais números transformam Lula na versão batracóide da fada Sininho; a cada toque da varinha mágica surgirá um campeão de votos, agora e em 2010. Assim, se o fenômeno quiser (não nos referimos ao enxundioso craque Ronaldo), o país terá dona Dilma na presidência e, em todos os estados, prefeitos e governadores do PT.
Tá certo, o Brasil merece.
******

Anátema! Anátema!

O considerado Rafael Andrade Rios, engenheiro civil em São Paulo, leu esta chamadinha na capa do Globo Online:

Carol Castro: Cristãos querem retirada da PlayBoy – atriz pousou nua com um terço na mão.

Rafael, que não perde missa e nunca faltou às aulas de português, repreende os envolvidos:
“O herético textinho diz que a atriz ‘pousou’, e o verbo assim empregado quer passar a idéia de que ela é a própria Nossa Senhora, que de vez em quando pousa aqui e ali e encanta os fiéis. E essa idéia de fotografar mulher nua com terço na mão é um acinte aos princípios religiosos!”
Janistraquis, ex-coroinha relapso, garante que quem posa de vanguardista ateu tem mesmo é que pousar nas profundas.
******

Melamina ou melanina?

A considerada Malcia Ivone Afonso, assessora de imprensa da Anvisa, leu na Folha de S. Paulo:

China: Leite em pó contamina 432 bebês e mata 1
O Ministério da Saúde chinês diz que o leite contém melanina, substância química usada na produção de plásticos.

Malcia esclarece que o jornal confundiu melamina com melanina:
E um amigo, da área de toxicologia, ficou tão injuriado que chegou a afirmar que vai 'propor uma cadeira de nomenclatura química nos cursos de jornalismo'.
Ele sabe que o assunto é difícil pra quem não é da área, mas o sujeito tem que ter um mínimo de desconfiômetro nessas horas; todo mundo sabe que melanina é o pigmento natural presente na pele, cabelo e até olhos de todas as pessoas e jamais poderia causar intoxicação e morte.
O pior é que quem ouviu tudo isso fui euzinha, como se eu tivesse culpa!
******

Desastre naval

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, de cujo varandão debruçado sobre o manancial de besteiras vê-se o desemprego a se afogar no espelho d’água do Palácio do Planalto, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando, sem que pudesse fazer alguma coisa para evitar a tragédia, observou o vibrante matutino a naufragar nas ondas da ignorância naval:

“NAVIOS FAZEM MANOBRAS -- Aliada da Venezuela, a Rússia anunciou que vai realizar, até o fim de novembro, exercícios militares conjuntos nas águas do Caribe. Segundo a chancelaria da ex-União Soviética (sic), vários navios da frota russa, incluindo o cruzeiro (sic) de propulsão nuclear Pedro el Grande e o Almirante Chabanenko, barco de ataque contra submarinos, chegarão à América do Sul antes do fim do ano. (...)”.

Mestre Roldão, que já se aventurou por mares nunca dantes navegados, deu nota zero à, digamos, notícia:
O navio nuclear não será um barco de cruzeiro e sim um cruzador. E o seu nome não é "Pedro el Grande" e sim "Pedro, o Grande". O despacho deve ter chegado ao jornal em espanhol e o tradutor não ousou traduzir o nome do cruzador russo. Se fosse um navio de guerra venezuelano poderia ser batizado com o nome de "Bolívar, el Grande". Se as manobras serão no final de novembro, é claro que os navios russos chegarão no Caribe antes do fim do ano...
******

Nota dez

Já estamos na primavera, porém de repente ventos gelados sopraram do Oeste e o céu fez-se em estrelas que ignoravam um rastro de lua, de modo que tivemos a sobrevida do inverno aqui nos contrafortes da Serra do Mar. Então Janistraquis vestiu aquele capote antigo, inspirado num conto de Gogol, armou-se de luvas e cachecol e foi até nosso escritório examinar a correspondência.
Da sala onde servia o jantar de Dona Marta, mansa jararaca que há anos criamos dentro de casa, ouvi meu assistente comentar: “Mas como escreve bem esse tal de Mauro Santayana!”. O texto, escolhido por 14 colaboradores da coluna, entre eles o nosso proficiente diretor, Roldão Simas Filho, está no Blogstraquis à disposição do considerado leitor.
******

Errei, sim!

“PAPO DE CRAQUE – Com indesculpável atraso, Janistraquis demonstra aqui sua admiração pelo ex-jogador, ex-técnico e comentarista de futebol Mário Sérgio Pontes de Paiva. O craque escreveu no Estadão: ‘Dallas – Um esquema errado, um time previsível, um futebol para não chegar a lugar nenhum. É a Seleção Brasileira para enfrentar os russos na estréia na Copa do Mundo.’
Meu assistente aplaude a pontaria de Mário Sérgio, que por absoluta falta de adversários é o legítimo vencedor do Troféu Omar Cardoso de 1994.” (outubro de 1994)
(Para os muito jovens: Omar Cardoso foi o mais célebre horoscopista brasileiro; e a seleção que não iria chegar a ‘lugar nenhum’ conquistou o tetra nos EUA, como todos estão carecas de saber.)
Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada “Carta a Uma Paixão Definitiva”.

Nenhum comentário: