A imagem do Brasil na imprensa sueca de hoje me deixa triste.
Digo isso porque acabo de assistir, na televisão, a um programa sobre as condições de trabalho nos campos de cana-de-açúcar em São Paulo e no Nordeste, com o título: “Eles se matam pelo nosso etanol”.
Uma viúva conta sobre suas condições de vida depois que seu marido faleceu, após um dia cortando 17 toneladas de cana. Um trabalhador descreve o dia-a-dia na lavoura e uma religiosa apresenta a lista de mais de 20 cortadores falecidos nos últimos três anos, no Estado de São Paulo. A maior parte deles de infarto e esgotamento.
A repórter também entrevista menores, de 13 e 15 anos, que trabalham no corte da cana. Depois, telefona para a empresa que, é claro, nega a contratação de menores. Fica confirmado, assim, que a legislação não é seguida e que os menores trabalham clandestinamente.
No programa, vemos também o ministro sueco da agricultura sendo entrevistado e inquirido se continuará a comprar etanol importado do Brasil para abastecer seu veículo.
O acordo assinado quando da visita do Presidente Lula a Estocolmo, no último outono, também é trazido à discussão. O ministro é perguntado por que razão o governo sueco não discutiu, no momento da assinatura do acordo, as condições de trabalho dos cortadores de cana.
Ao mesmo tempo, os jornais publicam reportagens como a que tenho à minha frente, sob o título: “Mosquitos espalham morte no Rio”. O repórter destaca a morte de 80 pessoas, metade das quais crianças.
O fato é que a imagem de nosso país, aqui, hoje em dia, está ligada à violência nas ruas, ao turismo sexual (que já foi assunto de um texto anterior), às enchentes no Nordeste, à dengue, ao etanol e ao eterno futebol.
Apesar de gozarmos da simpatia sueca, principalmente no que diz respeito ao futebol, as notícias negativas se multiplicam, agora com o etanol como protagonista.
Para piorar a história toda, a foto que recebeu o prêmio de “fotografia do ano” mostra o que os suecos intitulam “catástrofe ambiental”. Para conferir, é só clicar aqui.
Fico desanimada.
Mas tomara que tudo isso seja apenas um lado da verdade. E que meu país de muitas faces possa me mostrar seu lado bom na próxima visita.
O problema todo é que a gente não sabe se a saudade é de um país que existe de fato ou de uma idealização que não resiste ao confronto com a realidade.
A conferir.
Sandra Paulsen, casada, mãe de dois filhos, é baiana de Itabuna. Fez mestrado em Economia na UnB. Morou em Santiago do Chile nos anos 90. Vive há quase uma década em Estocolmo, onde concluiu doutorado em Economia Ambiental.
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário