Por Rafael Rodrigues
A blogosfera brasileira é, abrindo poucas exceções, irrelevante. Não adianta espernear, tentar argumentar. Esta é a realidade: a grande maioria dos blogs brasileiros não tem importância nenhuma. São bobos, cheios de conteúdo descartável e, o que é pior, muito mal escritos. Basta ver a lista dos 100 melhores blogs do Brasil, segundo o Technorati. Há, sim, endereços com bom conteúdo. Mas o que vemos entre os 20 primeiros colocados são blogs de humor e de cultura pop ou trash, todos descartáveis. Dentro das exceções, de conteúdo relevante, estão alguns blogs sobre informática e tecnologia, e um coletivo.
Se continuarmos a observar a lista, veremos blogs de jornalistas (Ricardo Noblat, Reinaldo Azevedo e outros) que, na minha opinião, são os espaços que realmente valem ser visitados. Além de informar, eles apuram as notícias que divulgam, têm fontes. Ou seja: fazem jornalismo. Nada contra os blogueiros que escrevem diários, de forma alguma. Diversos amigos meus têm blogs, os visito com alguma regularidade (mesmo que pouca) e gosto de lê-los. Minha crítica é dirigida àqueles blogs com uma série de posts vazios, que não provocam nenhum tipo de reflexão. Você lê, tem alguns acessos de riso, lembra de alguns fatos da sua infância e só. Sem contar o fato de alguns deles serem tremendamente mal escritos.
Os jornalistas, tanto faz se em jornais, revistas ou blogs, ao menos escrevem bem. É certo que alguns deles escrevem pior que blogueiros, mas não se trata da maioria, e sim de uma minoria. Não vale aqui dizer que "blog é entretenimento" e "jornalismo é informação". Afinal, uma das razões deste Especial é refletir sobre o fato de a blogosfera brasileira estar incomodada com o descaso que a imprensa tradicional faz (?) dela. Mas como não "ignorar" os blogs brasileiros, se a maioria deles é mal escrita, vazia de conteúdo e descartável? Blogueiros brasileiros não fazem notícia, não apuram dados. Os que fazem isso são poucos. E, no meio desses poucos, estão muitos jornalistas com anos e anos de estrada.
Trocando em miúdos: o que há de conteúdo relevante nos blogs brasileiros é produzido, em grande parte, por jornalistas. É bom deixar claro que eu tenho um blog. E admito que não há nada de muito relevante nele, nem nenhuma novidade. No mais das vezes, escrevo sobre livros ou sobre o meu dia-a-dia, que nada tem de interessante. Mas não tenho nenhuma pretensão com ele, ao menos por enquanto. Então, não vejo mal nenhum em reconhecer que o meu blog é só mais um entre milhares de outros por aí. É por isso que não consigo entender toda essa birra, essa briga boba entre blogueiros e jornalistas.
Aliás, acho que entendo. A audiência na rede tem aumentado, e muito. Até alguns anos atrás os blogs eram dominados por jovens que escreviam seus diários virtuais ou por profissionais especializados. Havia concorrência, competição, entre os próprios blogueiros, mas nada semelhante ao que vemos agora, com os jornalistas. Parece que, depois que a grande imprensa acordou e viu na internet uma oportunidade de atrair leitores para os veículos impressos, a competição se tornou uma questão de orgulho, de honra, de respeito. Mas, seja sincero comigo, por favor. Como respeitar um blog que, entre os 10 últimos posts, 08 são vídeos engraçadinhos encontrados no YouTube? Ou um outro que faz propaganda de sites pornográficos?
Não dá pra respeitar. Isso não significa, de maneira alguma, que a blogosfera brasileira inteira não mereça respeito. Os blogs são de extrema importância, hoje. Não só aqui no Brasil, mas em qualquer país do mundo. Há algumas décadas os intelectuais brasileiros criavam suplementos literários ou revistas irreverentes para expressar suas opiniões e fazer oposição aos governos vigentes. Isso exigia uma boa quantia de dinheiro, e quase todas essas manifestações intelectuais foram ceifadas pela falta dele. Além de esses veículos ficarem restritos a geralmente apenas uma cidade.
Hoje um coletivo de blogs desempenha o mesmo papel que essas iniciativas do passado, com muito menos gastos e com um alcance bem maior. Sem a mesma contundência, é verdade, mas ainda assim com sua devida importância. Também não podemos dizer que os jornalistas, todos eles, são corretos, íntegros e responsáveis. Basta ver a quantidade de matérias parciais e pessoais publicadas todos os dias, todas as semanas. Muito do que falta à maioria dos blogueiros, falta também a um considerável número de jornalistas: critério, honestidade e bom senso, para ser bastante breve e superficial. E maturidade, é claro, para aceitar as críticas e aprender com elas.
Seria injusto terminar este texto sem citar o principal personagem desta "briga": nós, leitores. Afinal, somos nós que compramos os jornais e revistas, e acessamos os blogs. Nós é que decidimos quem são os "melhores". Precisamos ter também um pouco mais de maturidade, critério e bom senso, separar o que é importante do que não é, saber a diferença entre um comentário mais longo e uma matéria bem feita, distinguir um blog de um site de entretenimento em formato de blog. A única certeza que temos é que a blogosfera brasileira ainda tem muito para aprender e crescer. É bem provável que daqui a alguns anos os blogs realmente assumam o papel ― sem trocadilho ― dos veículos de imprensa tradicionais. Mas, daqui até lá, os blogueiros têm muito que aprender com o jornalistas. E, em menor escala, vice-versa.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Jovens blogueiros, envelheçam
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