terça-feira, 29 de abril de 2008

E o TCC virou livro


Armazém Literário - Observatório da Imprensa

O MESTRE E OS FOCAS - O legado do repórter Leleco

Por Marco Maciel em 29/4/2008

Prefácio de Leleco, peça ausente, de Alexandre Costa Nascimento e Eduardo Mariot Araújo, 208 pp., LGE Editora, Brasília, 2008; R$ 28; título e intertítulos do OI

A iniciativa oportuna e necessária dos jornalistas Alexandre Costa Nascimento e Eduardo Mariot Araujo em pesquisar a carreira de Haroldo Cerqueira Lima (1939-2003), o Leleco, constitui-se momento para lançarmos luzes sobre aspecto central da profissão de jornalista, mas que, devido ao seu elevado e destoante grau de subjetividade, muitas vezes escapa a uma acurada abordagem nos cursos de jornalismo. Refiro-me ao princípio basilar do relacionamento interpessoal, que se expressa tanto no âmbito das redações quanto na relação direta com as fontes de informação e se escuda numa sólida formação moral.

A carreira de Leleco atingiu o ápice durante o regime militar, período em que o exercício do jornalismo, mais do que o domínio da técnica, exigiu companheirismo e uma sólida relação de confiança entre entrevistados e entrevistadores. Admirado e respeitado por todos, no período que vai dos anos JK à Constituinte de 1988, foi jornalista credenciado no Palácio do Planalto e, já no final da vida, trabalhou no Senado Federal. Seu empenho profissional se fazia notar mesmo em momentos que não foram registrados pelos jornais da época, como me revelou o competente e admirado jornalista Rubem de Azevedo Lima, que trabalhou com Leleco na sucursal da Folha de S.Paulo em Brasília.

Contou-me Rubem que em 1976, pouco antes da morte de Juscelino, a repórter Iara Stivalets Borges (filha de Mauro Borges, ex-governador de Goiás e amigo de JK quando eclodiu o Movimento de 64) conseguiu entrevistar o ex-presidente. De posse do material bruto e conscientes do seu valor, Leleco e ele se dedicaram ao trabalho de edição. "Eram mais de trinta laudas em espaço dois que foram reduzidas a vinte e enviadas para São Paulo, mas que jamais foram publicadas e acabaram se perdendo", lembra.
Lição antiga

Não se pode, contudo, falar de Leleco sem mencionar o Prêmio Esso de Jornalismo que a Folha de S.Paulo conquistou pela publicação da famosa entrevista com o general João Figueiredo, em abril de 1978. Feita por Leleco e Getúlio Bittencourt, teve duração de 95 minutos, foi integralmente redigida com base exclusivamente na memória dos repórteres e é considerada como uma das melhores reportagens brasileiras do século 20.
Simpático, bom caráter e de texto excelente, Leleco era um mestre na profissão. Tanto que Getúlio Bittencourt costuma repetir, a quantos o procuram, lição aprendida nos idos do regime militar mas que se aplica à permanente busca da qualidade para o ato de informar. Àquela época, declarou Leleco em entrevista a O Pasquim: "Está na hora de o jornalista brasileiro fazer a reciclagem do seu comportamento, senão será como nos 40 anos de salazarismo (a ditadura portuguesa): os jornalistas desaprenderam a informar e vão ter que aprender de novo".

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Apresentação

A História é análoga a um quebra-cabeça, no qual cada peça é um fato isolado. Encontrar a relação entre os fatos, encaixando-os uns aos outros, é reconstruir a imagem de um passado. Quanto mais completo o quebra-cabeça, mais nítida é a imagem formada e, conseqüentemente, mais fácil se entender o período que ela representa. No entanto, no quebra-cabeça que representa a história do jornalismo brasileiro, uma peça está ausente: os fatos ligados à vida e a trajetória profissional de Haroldo Cerqueira Lima, o Leleco.
Como um dos pioneiros da imprensa na nova capital, Leleco foi repórter político do jornal Folha de S.Paulo credenciado junto ao Palácio do Planalto, onde trabalhou por quase três décadas cobrindo a gestão de todos os presidentes da República, entre os governos de Kubitscheck e Sarney. Em 1978, Leleco venceu o Prêmio Esso de Jornalismo, o principal da categoria no Brasil, após uma entrevista exclusiva com o então futuro presidente, general João Figueiredo. Afastado da atividade profissional em virtude de uma doença crônica desde o início da década de 90 e, refugiado do convívio de amigos e parentes na cidade de Curitiba, Haroldo foi sendo aos poucos esquecido.
Sofrendo de um câncer em estágio avançado, Haroldo Cerqueira Lima recebeu-nos em outubro de 2003 na sua residência para um encontro. Na oportunidade, pudemos ouvir o testemunho de várias experiências acumuladas por Leleco durante toda sua vida. Empolgados com a possibilidade de aprofundar os conhecimentos do jornalismo e diante da oportunidade de fazê-lo através da descoberta de detalhes da vida de Haroldo, mantivemos outros contatos com o jornalista. Até que surgiu a idéia de escrever sua biografia com a intenção de preencher a lacuna que sua ausência representa na história da imprensa brasileira. Já no hospital, dois dias antes de vir a falecer, a proposta foi-lhe apresentada, quando obtivemos seu consentimento.

O livro Leleco – Peça ausente tem como objetivo resgatar e divulgar os principais fatos que marcaram a vida e a trajetória de Haroldo Cerqueira Lima, para que seja possível às gerações presentes e futuras tirarem proveito das lições que a história nos oferece através de seu exemplo.

O livro reportagem biográfico foi organizado da seguinte forma:
** Primeira Parte – "O menino Baô": trata dos aspectos e vivências de infância, dificuldades, superações e problemas familiares no período entre 1939 a 1957;
** Segunda Parte – "Lelequinho": descreve o início da carreira no jornalismo pela Folha de S.Paulo, a escolha da profissão até a mudança para Brasília.
** Terceira Parte – "Leleco": mostra o envolvimento com o mundo da política em Brasília antes e depois do golpe de 64, relata a carreira de jornalista político, as grandes reportagens, as viagens internacionais, a vitória no Prêmio Esso e a luta pela redemocratização do país – período decorrente entre 1964 a 1990;
** Quarta Parte: "Haroldo": os aspectos da vida particular, a aposentadoria precoce, o refúgio em Curitiba, os problemas de saúde e as memórias de Haroldo até sua morte no ano de 2003.
O conteúdo deste projeto é resultado de um trabalho de pesquisa iniciado em outubro de 2003, data em que colhemos os primeiros depoimentos pessoais de Haroldo Cerqueira Lima. A partir de então, foram utilizados como fonte de estudo os documentos de acervo pessoal, entrevistas com familiares, amigos e colegas, pesquisa bibliográfica e o acervo de todas as matérias publicadas pelo jornalista.
Para sua elaboração, foram entrevistados, entre outros, Bóris Casoy, Ruy Lopes, Ana Lagôa, Getúlio Bittencourt e Jarbas Passarinho. O prefácio é assinado pelo senador e ex-vice-presidente Marco Maciel. O livro foi apresentado em dezembro de 2005 para uma banca de graduação do curso de jornalismo da Universidade Tuiuti do Paraná, que o avaliou com a nota máxima (10).

Um comentário:

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado