terça-feira, 12 de agosto de 2008
Do Notícias, de Moçambique
A cidade universitária como é nos últimos tempos denominada Nampula, está de vento em popa. Não é para menos. Sete instituições do ensino superior estão em funcionamento, com quase uma dezena de faculdades. O número de estudantes também não pára de subir a cada ano que passa, com todas as dificuldades e adversidades que daí advém. Mas como não há bela sem senão, algumas jovens, para conseguirem superar a falta de condições e a carestia de vida, vão-se prostituíndo um pouco pela urbe fora.
Luis Roberto - Maputo
A demanda do ensino superior é uma realidade na cidade de Nampula nos últimos dez anos. Porém, também é um facto que há corrupção sexual entre alguns estudantes de poucas posses, para suportar os estudos, situação que afecta maioritariamente as provenientes de outras regiões deste vasto Moçambique.
É uma dura realidade o facto de que algumas estudantes das diversas instituições universitárias têm que “vender o seu corpo”, pelo facto de as suas famílias não terem suporte financeiro para aguentar os custos das suas educandas.
Assiste-se assim a uma intensa promiscuidade, que atinge algumas estudantes, sobretudo com alguns empresários, nacionais e estrangeiros, com poder económico, grupo este que é o preferido pelas “mwanas”, como são chamadas neste ponto do país.
ENCONTRAR ALTERNATIVAS NÃO É PROSTITUIR-SE
S. Daúde, que veio de Inhambane, depois de concorrer aos exames de admissão na cidade de Maputo, considera que não se está a prostituir, mas sim “a encontrar alternativas” para arcar com as despesas do seu curso na Universidade Pedagógica, delegação de Nampula.
E ponta o facto de não possuir por cá ninguém com algum vínculo familiar. Daí que tenha que arranjar ajuda, não apenas no pagamento de propinas e compra de material, mas também noutras despesas que são imprescindíveis para a sua estada em Nampula, como é o caso do aluguer da dependência em que está a residir e para a compra de alimentação:
- Temos que fazer este sacrifício para pudermos suportar as despesas. As que arranjam homens para as ajudar, não estão a prostituir-se como se quer fazer entender e se for a notar, a maioria apenas se mete com homens comprometidos matrimonialmente. Não andam nas ruas ou esquinas à procura.
Por seu turno, Julieta G., proveniente de Sofala, que também anuiu em falar à nossa Reportagem sobre o assunto, disse não se tratar de prostituição coisa alguma, mas de uma forma de sobreviver face as contingências de momento, pois após terminar o seu curso de Direito na Universidade Católica, vai levar uma vida normal como fazia dantes:
- Sempre fui uma moça de bem, nunca me passou pela ideia que iria um dia trocar o meu corpo por bens ou outra coisa, que não fosse amor íntimo. Mas as coisas precipitaram-se dum momento para o outro, principalmente quando transitei para o segundo ano e as exigências foram-se avolumando, numa altura em que a mesada que os meus pais mandavam começou a falhar. Não tive outra alternativa, disse Julieta, um tanto amargurada.
HÁ QUE BUSCAR SAÍDAS...
Alguns residentes em Nampula dividiram-se nas suas análises. Uns acham que as estudantes que trocam as suas partes íntimas em favor de valores monetários ou bens materiais para custearem os seus estudos, não têm alternativas, a avaliar pelo alto custo de vida, que dia pós dia tende a agravar-se:
- Veja que eu, como trabalhador e com um salário médio, tenho que apertar o cinto para conseguir sobreviver. Imagine agora um simples estudante, ainda por cima universitário, que vive longe dos seus familiares. O que vai fazer?, questiona Maximiano Zucula que acha que não lhes resta outra alternativa.
Por seu turno, Eurico da Silva afirmou que se torna insustentável para um estudante vindo de fora da província, fazer a faculdade com os seus próprios meios, a não ser que seja membro de uma família abastada. Mais adiante, conta-nos uma história que entende ser das estudantes que estão a fazer o ensino universitário à custa de “amigos”:
- Conheci uma moça que me confidenciou estar em Nampula por ter chumbado no primeiro ano na Universidade Eduardo Mondlane, onde estava a fazer Medicina. Veio para cá, conseguiu ingressar na UniLúrio e está a arrendar uma casa com dois quartos, cuja renda mensal está a 10 mil meticais. Para além deste valor, tem que pagar propinas, porque não tem bolsa. Mesmo assim leva uma vida de “princesa”.
Entretanto, alguns dos nossos entrevistados entendem que os estudantes que enveredam por esta atitude, deviam ter no seu âmago o empreendedorismo como foram os da geração 8 de Março, que com os parcos recursos que dispunham, num momento difícil para o país, concluíram os estudos universitários com êxito e muitos deles ocupam diversos cargos de direcção ao nível central e provincial:
- O que entendo é que muitos destes estudantes estão habituados a ter uma vida facilitada, pois poderiam encontrar junto do empresariado local uma oportunidade para prestação de serviços nos estabelecimentos formais, como por exemplo nas bombas de combustíveis, nos restaurantes e outros locais similares, obterem algum dinheiro para superar ou minimizar as dificuldades que enfrentam e custear os seus estudos, anotou por seu turno Rosário Chale.
De acordo com Chale, nos países onde a demanda do ensino superior é alto, os estudantes, através das respectivas associações, têm feito contratos de trabalho com algumas empresas do ramo de transporte, hotelaria e outros, para prestação de serviços:
- Penso que aqui em Moçambique poderíamos cultivar esta cultura, não esperando apenas que os nossos país ou o Governo suportem na totalidade os nossos estudos superiores após o ensino secundário.
NÃO SÃO APENAS RAPARIGAS...
Estranho mas real. Afinal não são apenas estudantes do sexo feminino que trocam as suas partes íntimas para viver, como se diz na gíria popular, no bem bom. Jovens do sexo masculino em Nampula, para continuarem os seus estudos no nível superior, também o fazem. Para a nossa Reportagem chegar a este conhecimento, foi graças a um alerta feito de uma das nossas entrevistadas, que nos confidenciou que alguns dos seus colegas vivem “maritalmente” com algumas senhoras, de forma a suportarem as despesas dos estudos.
Para o efeito, indicaram-nos C. Jacinto, proveniente da província de Inhambane, que vive com uma senhora, algures no bairro do Muahivire. Ele recebeu-nos com alguma simpatia, abriu-se, mas alertando-nos para o facto de a relação que está a ter com a actual “esposa” ser temporária:
- Vou ser sincero convosco: eu, tal como as minhas colegas, temos que arranjar formas de suportar os nossos estudos. Muitos de nós viemos de famílias pobres e sem posses, mas nem por isso podemos prescindir de continuar a estudar. Temos que fazer isto para entrar no processo da luta contra a pobreza, que passa pelos estudos, ironizou Jacinto.
Como Jacinto, um outro estudante não teve meias medidas em afirmar que desde que está em Nampula a fazer o curso de Comunicação na UCM, teve que passar por “chulo”, encantando senhoras, algumas delas mais “velhas” que para poder suportar os estudos que ele considera que num estabelecimento de ensino de nível superior, não é coisa de brincar.
Maculule, que vem de Xai-Xai, disse por seu lado, que viu-se forçado a “casar”, para conseguir safar-se dos problemas que vinha enfrentando para custear os estudos, sem o que teria desistido no seu terceiro ano:
- Mas agora vou no quarto e estou a preparar a minha tese de defesa e daí não sei se vou continuar com ela ou não.
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