sexta-feira, 15 de agosto de 2008

jornal da imprenÇa


O dia em que a profissão virou nome próprio

Moacir Japiassu (*)

Memória e palavra
se completam uma na
outra, perseguindo sons

Celso Japiassu in A Tarde e um Novo Dia)

O dia em que a profissão virou nome próprio
A triste notícia foi enviada à coluna por 64 leitores de quase todo o país e, para se ter uma idéia, deu até no Aquidauana News, evidentemente de Aquidauana, no Mato Grosso do Sul, cidade muito conhecida dos telespectadores da novela Pantanal:

“Morreu no Rio de Janeiro Marchand Marcus Aurélio, marido da atriz Isadora Ribeiro.”

Segundo todos os depoimentos, marchand virou nome próprio originalmente nas páginas da revista Contigo! e se espalhou redações afora.

Laerte Peregrino Fonseca, comerciante em São Paulo, leu a notícia no portal Terra, no qual uma legenda de foto esclarecia:

“Isadora Ribeiro e Merchand Marco Aurélio tinham uma filha”.

Laerte deixou cair o queixo:

“Certamente o redator do Terra, mais instruído que os demais, achou melhor trocar Marchand por Merchand...”

O professor de jornalismo Álvaro Larangeira tomou conhecimento do lamentável acontecimento em variadas fontes e agraciou o “texto” com o TROFÉL IMPRENÇA da semana em seu blog, http://nomundodaluanews.blogspot.com

Janistraquis também ficou perplexo e recordou episódio ocorrido numa prestigiada Redação paulistana, quando uma gentil senhorinha saiu para fazer reportagem sobre culinária de luxo e se referiu a uma certa “Mostarda de Jó”. Não foi difícil descobrir que se tratava da mostarda (de) Dijon...

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Indignação mineira
Percorre a internet o nome de um inexistente bairro na cidade de Bela Vista de Minas, Puta Que Pariu, o que deixou indignado o considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte:

Pois é...a mentira foi cantada em prosa e verso por aí afora, mas quase nada se falou a respeito do último e, este sim, verdadeiro, resultado do Enade. Poucos dão importância às boas notícias

O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes revelou:

- Um terço dos melhores cursos está em Minas Gerais;

- Apenas 25 cursos no país obtiveram nota máxima (5) e, desses, oito são de instituições mineiras, todas universidades federais do interior;

- Três desses cursos estão em Alfenas (Unifal-MG), três em Viçosa (UFV), um em Lavras (Ufla) e um em Uberaba (UTM);

- O Enade 2007 mediu a qualidade de 3.248 cursos em 16 áreas. Os 70 que tiveram os piores resultados (notas 1 e 2) no estado serão fiscalizados pelo MEC e terão mais exigências no processo de recredenciamento.

- Pelo novo indicador criado para avaliar cursos de graduação, dos 48 melhores, 13 estão em Minas.
(Confira em http://www.estaminas.com.br/em.html)

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O ataque do pedido
O considerado Marco Antonio Zanfra, assessor de imprensa do Detran de Santa Catarina, envia de seu refúgio ecológico na Praia da Joaquina:

Foi deflagrada a III Guerra Mundial, a julgar pelo título "EUA e Rússia se atacam", estampado na página 17 do "Diário Catarinense" deste sábado, 9 de agosto.

Enquanto esperava o zunir dos mísseis intercontinentais e o fragor dos cogumelos incandescentes, li no texto sob a alarmante chamada que a notícia não era exatamente sobre a iminência de um novo conflito internacional de seqüelas imprevisíveis, mas sobre o "pedido" dos Estados Unidos à Rússia para que suspendesse o ataque à província da Ossétia do Sul, na Georgia.

Zanfra observa que ocorreu ligeira confusão entre as palavras, algo bastante comum no chamado “jornalismo moderno”:

Contrariando o grau de sobressalto que o titulador quis dar à notícia, o texto diz que os EUA simplesmente pediram, através da secretária de Estado Condoleeza Rice, que a Rússia "cesse imediatamente os ataques aéreos e de mísseis e respeite a integridade territorial da Georgia." Que espécie de "ataque" pode haver num pedido desses?

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Palavra obscena
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, de cujo varandão debruçado sobre a ignomínia observa-se um grupo de coveiros a enterrar algemas à porta da Polícia Federal, pois Roldão organizava a vasta correspondência quando teve a atenção despertada pela carta de um amigo, com o seguinte teor:

Estava lendo o Correio Braziliense e deparei com essa palavra (!?) em uma reportagem: FÔLDERES. Como não sou assinante, não vou escrever reclamando – mas, outra vez, apelo para a sua boa vontade. Dá para reclamar, nem que seja para eu me sentir um pouco melhor?

Puxa vida, não dá para escrever FOLHETOS? Infelizmente, pegaram o jornal da minha mesa e eu não me lembro qual reportagem era, mas é desta semana.

Nosso mestre encaminhou a carta à direção do jornal, com esta observação:

Endosso a reclamação deste amigo. É incrível como estamos perdendo nosso vocabulário vernáculo, por esnobação alienada, obrigando as pessoas a aprenderem novas palavras, estrangeiras, esquecendo as consagradas em nossa língua há séculos.

Pois é, Roldão, saiba que, embora tenha trabalhado em agência de propaganda, o colunista sempre abominou a palavra, por considerá-la altamente obscena; afinal, lembra aquilo...

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Porre espetacular?
O jornalista paulistano Luís Felipe Tonet procurava no portal G1 qualquer informação que não fosse sobre as Olimpíadas quando encontrou, sob o título Rússia diz ter atacado tropas da Geórgia na capital da Ossétia do Sul:

"Posições do exército russo que estavam atirando em Tskhinvali e nas forças de paz foram suprimidas pela artilharia e por tanques do 58º Exército russo", segundo o comandante russo Igor Konashenkov a uma TV russa.

Tão perplexo quanto o judoca João Derly, aquele que levou uma surra do português, Tonet desabafou:

“Não entendi muito bem quem é que estava atirando em quem, mas, pelo visto, a coisa por lá está russa!”

Janistraquis também ficou confuso, ó Tonet:

“Considerado, se a frase do comandante Igor está entre aspas, existe grande possibilidade de o homem ter dado a entrevista em meio a um porre espetacular; e também é difícil qualificar a situação naqueles lados; nosso colaborador acha que está russa, mas creio que está mesmo é ruça...”

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Dureza alemã
Janistraquis, que anda mais desorientado do que cachorro em padaria, passava os olhos cansados pelo UOL - Últimas Notícias e leu a manchete:

Alemão que dormiu nove anos em estação de trens é condenado.

Meu assistente ficou revoltado:

"Caramba, considerado, o serviço social na Alemanha já foi melhor! Esse pobre comatoso dorme nove anos na estação, quando deveria estar num hospital!!!"

Fui conferir; na verdade, o alemão, identificado apenas como Mike K., como um personagem de Kafka, morou na estação durante os últimos nove anos. Tem 29 de idade, é viciado em cocaína e heroína, portador do vírus HIV e sofre de hepatite; não tem endereço fixo faz tempo e mendigava durante o dia na estação de Düsseldorf.

Janistraquis não deu o braço a torcer:

"E então? Se fosse num país preocupado com as pessoas, um país realmente de todos, o sujeito estaria pelo menos inscrito no Bolsa Família!!!"

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Celso Japiassu
Leia no Blogstraquis a íntegra do Poema n° 2, o qual compõe a série ainda inédita A Tarde e um Novo Dia. O poeta, que sempre revisita o passado, evoca rotas em que nos perdemos para sempre na busca de um retorno.

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Carregando malas
Janistraquis enviou mensagem ao Cleber Machado oferecendo-se para carregar as malas desse excelente narrador esportivo na mudança da Globo para a Record.

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Coisa de mineiro
O considerado Mário Lúcio Marinho envia piadinha que é o retrato da ingenuidade mineira de tempos idos e vividos:

ANJOS CAIPIRAS
Dois caipiras de Dores do Indaiá foram assaltar a Igreja à noite.
O padre percebeu o barulho, acendeu as luzes e perguntou:
- Quem está aí ?- os dois caipiras ficaram calados.
Aí o padre perguntou de novo:
- Quem está aí?!?!
Um dos caipiras respondeu:
- Nóis é anjo.
Desconfiadíssimo, o padre desafia:
- Então por que não voam?!
Sem titubear, o outro caipira responde:
- Nóis é fiote!!!....

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Aos que chegam
A coluna informa aos novos (e inúmeros) credenciados deste Comunique-se que não existe nenhuma burocracia para se colaborar com o Jornal da ImprenÇa; a coluna aceita notícias consideradas “velhas”, porque besteira infelizmente não prescreve, e quem quiser manter o anonimato pode criar pseudônimo, pois este é, digamos, um território livre de preconceitos.

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Nota dez
Em entrevista à revista Língua Portuguesa, disse o mestre Deonísio da Silva:

As evidências mostram que no Brasil há muitos incompetentes em postos importantes, vítimas e cúmplices do que lhes acontece. Na mídia, eles se acotovelam e enterram jornais e revistas, patinando nas mesmas tiragens, enquanto nós fazemos a nossa parte, isto é, produzindo novos livros e leitores.

Somos o maior mercado editorial da América do Sul. Foram os livros que nos tornaram leitores e depois assinantes de revistas, não o contrário. Eles esqueceram isso? Quando o jornal e a revista são bons, os leitores podem até migrar para a internet, para a edição eletrônica, mas sempre vão procurar o que precisam. E a imprensa precisa dar o que o leitor precisa; ou não precisa, mas quer.

Leia no Blogstraquis a íntegra da entrevista deverasmente notável.

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Errei, sim!
MAIS MAIORES – Página de Filmes na TV do jornal O Fluminense, de Niterói: ‘Morte em Veneza, produção italiana de 1971, dirigida por Lucchino Visconti, um dos mais maiores cineastas do seu país (...)’. Janistraquis se divertiu: ‘Considerado, um dos mais maiores diretores, louvado por um dos mais menores redatores...’”. (dezembro de 1992/janeiro de 1993)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada “Carta a Uma Paixão Definitiva”.

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