sábado, 30 de agosto de 2008
Favela News
Inventando moda
Fabiana Oliveira - Viva Favela
Veículo geralmente utilizado como meio de transporte, lazer e/ou competições desportivas, as bicicletas pipocam por todo mundo nos mais variados tamanhos e estilos. Descontente com os modelos que a grande indústria lança, o morador da Comunidade BNH de Santo Aleixo, em Magé, na Baixada Fluminense, Paulo Cesar, 35 anos, decidiu criar suas próprias bikes:
“Já fiz modelos de tudo quanto é tipo. Tem bicicleta que dobra no meio, com bateria para iluminação, uma com banco de três metros de altura, com step e com tanque de ar para buzina usando tanque de gás de geladeira”, diz ele, esforçando-se para recordar tantas invenções.
Muitas das coisas citadas podem parecer impossíveis para uma bicicleta, mas esta palavra passa bem longe do dicionário de Paulo Cesar. Segundo ele, o único critério utilizado nas criações é que uma seja bem diferente da outra.
Tem bicicleta até com freios de mão e de pé iguais aos de carros, com direito a alavanca e tudo. Paulo Cesar faz questão de ser o primeiro a testar e desfilar pela comunidade em todas elas e como não poderia deixar de ser, toda essa parafernália é de parar o trânsito.
“Um dia subi a serra de Teresópolis com a de três metros de altura. Aí um passava e pedia para tirar foto, outro também, quando fui ver a serra estava um bom pedaço engarrafada. A polícia rodoviária interviu e disse para eu não mais passar com ela por ali”, conta.
Tudo começou há cerca de cinco anos, quando Paulo começou a trabalhar numa oficina de carro. Com o material que sobrava, ele foi utilizando para montar suas bicicletas diferentes. Ele conseguiu vender todas as suas criações, mas ainda trabalha “fazendo um pouco de cada coisa” para sobreviver:
“Meu sonho mesmo é me dedicar a montar bicicletas diferentes e se possível, as próximas serão motorizadas”.
A casa ecológica
Não muito longe da oficina onde Paulo Cesar trabalha, uma construção um tanto quanto inusitada chama atenção de quem anda pelas ruas do BNH de Santo Aleixo: é uma casa com três paredes inteiras construídas com garrafa pet.
No local funciona há três anos a sede do grupo Ecologic Bike, que tem como lema “pedalar pela preservação ecológica contra a fome, miséria e pela vida”. Carlos Alberto da Silva, presidente da organização, diz que construir as paredes com as garrafas é bem mais vantajoso.
“Temos uma claridade muito boa dentro da sala. Além disso, não gastamos nem, R$ 25 nas paredes. Se tivesse que fazer uma de alvenaria ia ter que usar tijolo, cimento, areia, terra. Aqui só tem arame, barbante e garrafas pet”, diz.
Além da economia o tempo para levantar cada parede também é bem mais rápido. Carlos diz gastar menos de um dia para fazê-las, claro, com a ajuda de outros membros da Ecologic. A idéia agradou tanto, que já tem pessoas na comunidade juntando garrafas para fazerem suas paredes alternativas também.
Carlos jura que elas são seguras e com mais um ponto positivo: todas as garrafas utilizadas foram recolhidas em cachoeiras da região. As inovações não param por aí, dentro do espaço, a tecnologia e a reciclagem convivem harmoniosamente com objetos rústicos e verde; muito verde para todo canto.
“Temos plantas de vários tipos, fazemos também abajur com cipó, palha de coqueiro e bambu, reaproveitamos caixas de ovos, fazemos poltrona de pet. Utilizamos tudo que dê para reaproveitar”, diz, mostrando as criações.
Em vez de lixo, vida
Rita acha que o alto índice de tuberculose é pelo fato das casas serem muito juntas
Conhecido como entulho, as sobras de obras se transformam num grande empecilho para muita gente. Mas a moradora da Rocinha, Rita Smith, conseguiu enxergar no que ia para o lixo, uma forma de lutar pela vida, num local com um dos maiores índices de tuberculose no estado do Rio de Janeiro.
“Aqui tem um número muito grande de tuberculose e doenças respiratórias, porque as casas estão muito juntas, becos próximos, não tem luminosidade, a comunidade cresceu muito. Aí pensamos: o que a gente pode fazer para melhorar essas casas?”, questiona.
Com a ajuda de membros do Grupo de Apoio de Ex-pacientes, Pacientes e Amigos no Combate a Tuberculose (GAEXPA), bastou andar pelas ruas da comunidade para achar uma resposta rápida e acessível a todos:
“A Rocinha tem muito material de construção que está sendo jogado fora; pet, pedaços de tubo jogados em cima das casas que servem como depósito do mosquito da dengue, abrimos essa discussão e começamos a fazer ventilação com pedacinhos de tubo que entram ar ou fazendo janelinhas com pedaços de tubo e concreto”.
A idéia está dando tão certo que Rita pretende expandir para outras pessoas interessadas em deixar o ar circular em suas casas: “O que queremos é fazer uma grande oficina chamada ‘moradia saudável’, ensinando a reaproveitar esse material, deixando de ser proliferadores de doenças, mas sim melhorando a qualidade de vida nas casas”.
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