sexta-feira, 31 de outubro de 2008
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Blogalos
Weblogs ocupam espaços na informação eleitoral às custas da imprensa
Carlos Castilho - Observatório da Imprensa
Os weblogs dedicados à questões político-eleitorais cresceram até 500% na audiência, passando a ocupar o terceiro lugar nas preferências dos norte-americanos, depois da televisão e chegando perto dos jornais.
Os dados divulgados pela empresa Comscore representam um enorme salto em relação aos índices de setembro do ano passado. Alguns blogs como o Huffington Post produzido pela jornalista Arianna Huffington chegaram a ter 4,5 milhões de visitantes únicos1, no mês passado. O recém-lançado Politico, produzido por um grupo de jornalistas políticos, teve surpreendentes 2,5 milhões de visitantes únicos no mesmo período.
Até um blog que se especializou em pesquisas eleitorais, o Realclearpolitics, também registrou um recorde de audiência ao ser acessado por 1,2 milhões de visitantes únicos nos últimos 30 dias.
Mas muito mais do que estatísticas, o fenômeno mostra uma mudança nos hábitos informativos do eleitorado — o que, segundo pesquisadores da comunicação, terá profundas conseqüências na situação da imprensa convencional e na forma como os jornalistas encaram a sua atividade.
Os blogs rompem com uma velha exclusividade dos jornais no fornecimento de informações aos leitores. Era a conhecida teoria do cidadão informado, segundo a qual a imprensa cumpre um papel-chave na democracia porque fornece as notícias que as pessoas precisam para tomar decisões. Como não havia muitas fontes disponíveis de informação, o leitor não tinha muitas alternativas fora da confiança cega no jornal, rádio ou telejornal de sua cidade.
Hoje o contexto mudou. A internet gerou um avalancha informativa e o cidadão deixou de ser um receptor passivo de informação. Ele passou a observar os diferentes veículos de comunicação, numa atitude que o famoso sociólogo da imprensa Michael Schudson chamou de monitoramento-cidadão, ou seja, o cidadão escolhe as informações e não mais os jornalistas. As fronteiras geográficas também desapareceram e consultamos hoje os índices da bolsa de Wall Street com o mesmo número de cliques no mouse necessários para acessar a Bovespa, em São Paulo.
Neste sentido, o consumo de notícias começa a ter várias semelhanças com os hábitos de um consumidor exigente em matéria de alimentos ou artigos eletrônicos, por exemplo. Antes de se decidir, o comprador faz o maior número possível de consultas para não adquirir o produto errado. O mesmo acontece agora com a informação, pois as pessoas passam a comparar e conferir cada vez mais as notícias usando as mais diversas referências.
O caso dos weblogs políticos é claro. Em vez de confiar apenas nos jornais convencionais, o publico consulta cada vez mais os blogs para comparar versões e dados antes de tomar uma decisão. Isto significa que a nova relação do jornalista com os leitores já não passa mais pela noticia, mas pela interatividade.
Até agora o público precisava da notícia vendida pelos jornais porque não tinha outra forma de obtê-la. Nessas condições, os jornalistas e os donos de jornais eram pessoas importantíssimas no processo politico. Mas à medida que a notícia está disponível em milhões de weblogs, os profissionais e os veículos de comunicação perderam o status de referência informativa obrigatória.
Por não terem se dado conta deste processo é que jornais e jornalistas correm o risco de perderem o contato com o leitor.
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1 Visitante único é uma unidade de medida de audiência onde cada visitante de um site na Web é contado uma única vez durante o período de tempo monitorado.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Circo da Notícia
PRECONCEITO, PRECONCEITOS
O importante é ser dondoca
Por Carlos Brickmann em 28/10/2008
Há muitos e muitos anos, nos tempos da TV a lenha, um diretor de jornal aconselhava seus subordinados a não contratar mulheres para a Redação. "Por mais feia que seja, a gente acostuma e acaba namorando. Dá galho".
Na verdade, não era exatamente "namorando" a palavra que ele usava. Mas mulher em Redação, fora do Suplemento Feminino, era raríssima.
Faz muitos e muitos anos, mas hoje, nos tempos da internet, o preconceito continua de pé. Este colunista, que em sua longuíssima carreira colecionou desafetos, nunca foi chamado de feio (o que seria a mais pura verdade), nem sofreu críticas à sua elegância no vestir (o que seria também absolutamente correto). Mas vá uma mulher contrariar a opinião de alguém: é feia. É prostituta. É sapatão. É mal-amada.
Um caso recente exemplifica o clima reinante em nosso avançado e liberal entorno jornalístico. A jornalista Marli Gonçalves, 32 anos de carreira, citada no Google em sete páginas, militante feminista e da luta contra os preconceitos, ousou criticar a candidata Marta Suplicy, do PT, pelo anúncio em que perguntava se o prefeito paulistano Gilberto Kassab, seu adversário, era casado e tinha filhos. Mandou o e-mail com suas criticas, assinado, com telefone e endereço eletrônico, a uns 30 amigos. Na internet, o e-mail se multiplicou e gerou mais de mil respostas. A maior parte foi favorável; algumas, bem poucas, desfavoráveis. Sem problemas: a polêmica é boa, areja as idéias e faz parte da profissão. Houve pessoas que, discordando, mantendo suas posições, acabaram forjando laços de amizade com Marli.
Só que uma parte das desfavoráveis continha linguagem e comentários que deixavam claro que lugar de mulher, quando fora da cozinha, é na cama ou no tanque, ou talvez varrendo o chão. Pensando e escrevendo, jamais.
Trecho de mensagem enviada por uma mulher, que se disse professora: "Talvez lhe falte um marido, ou quem sabe um amante, ou até quem sabe uma namoradinha? Ah! Talvez não, mas um bom tanque de roupa pra lavar, isso com certeza lhe acalmaria os ânimos..."
Outro trecho, de um jornalista: "Posso afirmar com convicção que a tal de ‘Marli Gonçalves’ – nome de guerra de piranha – não existe. Só idiotas podem imaginar que o e-mail é verdadeiro".
Já pensou se este colunista que vos escreve, deixando emergir seus instintos mais primitivos, pergunta se a jornalista criticada por acaso seria xará da mãe do malcriado?
Do mesmo jornalista: "Marlizão". Se é mulher e solteira, só pode ser gay, não é mesmo? Já os homens podem ser solteiros, e são chamados de "bons partidos".
De uma mulher: "rugas, pobre, e gorda, cheia de celulite, uma bagaceira horrorosa, parece uma bruxa". "Se a jornalista com todo o jeitão de baranga (...)", "é uma mulher horrorosa, de cabelo branco, barriguda, bunda e peito caídos (...)"
Uma dúvida: por que as mulheres, quando expressam sua opinião, são criticadas pela aparência física? Por que a mulher, quando discorda de alguém, é logo chamada de prostituta? Deve ter havido este tipo de questionamento sórdido em Fortaleza, contra Luizianne Lins e Patrícia Saboya, ou em Natal, contra Micarla de Souza e Fátima Bezerra, ou em Porto Alegre, contra Maria do Rosário e Manuela d’Ávila. Só contra as duas, claro: seu adversário José Fogaça é homem, está livre desses ataques.
Zé Luiz, definitivo
O blog de José Luiz Teixeira definiu com perfeição o caso de Santo André, em que Eloá foi morta e Nayara saiu ferida.
"Fiquei impressionado com a precisão cirúrgica da polícia paulista.
"Conseguiu arrombar a porta, invadir o apartamento e retirar de lá o seqüestrador, são e salvo, sem um arranhão.
"Impressionou-me também o fantástico show da morte promovido pelas emissoras de televisão em busca de audiência, e o número absurdo de `autoridades´ querendo aparecer.
"A partir de um determinado momento, por exemplo, quem passou a dar entrevista no Hospital de Santo André não foi mais a diretora da instituição, mas o secretário de Saúde daquele município.
"Mas o que me deixou mais impressionado, mesmo, foi a cobertura da mídia depois da morte cerebral da menina Eloá Cristina.
"Não bastava mais acompanhar os personagens envolvidos no episódio: o sequestrador, as vítimas e os policiais envolvidos na operação de salvamento do assassino.
"Agora, as equipes de TV, em nervosos comboios, passaram a seguir pelas ruas da cidade os órgãos retirados do corpo de Eloá, carregados dentro de sacolas térmicas.
"Repórteres, cinegrafistas e fotógrafos acompanharam o transporte do coração, pâncreas e rins, de Santo André até o Hospital Beneficência Portuguesa, no bairro da Aclimação, em São Paulo.
"Um terceiro grupo correu atrás dos pulmões, levados para o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, no bairro de Cerqueira César.
"Enquanto isso, outro corre-corre para não perder de vista o fígado da menina no trajeto de Santo André até o centro da capital paulista, na Santa Casa de Misericórdia.
"Até ontem à tarde ainda não se sabia o destino das córneas. Mas logo, logo, saberemos, pois atentas equipes estavam de plantão para descobrir seu destino.
"Os restos mortais foram enterrados no cemitério de Santo André, com transmissão ao vivo e a presença mórbida de uma multidão de anônimos.
"Com um sensacionalismo nunca visto antes neste País, a mídia cobriu todo o processo de dilaceramento de Eloá Cristina. Literalmente.
"A Imprensa deixou, também, aparecer suas próprias vísceras, durante uma cobertura que, definitivamente, não condiz com o que se convencionou chamar de função social da Imprensa."
O verdadeiro culpado
A imprensa, sem dúvida, errou por excesso: o que havia ali era uma tragédia, não um espetáculo. A polícia, sem dúvida, errou em muitos procedimentos: seu objetivo não era ser personagem do espetáculo nem pensar no que a opinião bem-pensante diria de seus atos, mas salvar a vida das duas reféns.
Mas nem a polícia nem a imprensa, por mais que tenham errado, são culpadas pelo que aconteceu. O culpado, e isso não pode ser esquecido, é o namorado assassino, é Lindemberg Fernandes Alves. E, por favor, não venham com histórias de surto ou acesso de loucura. Ele premeditou o crime: arranjou a arma, comprou muita munição, levou tudo escondido nas roupas para dentro do apartamento.
A polícia pode ter errado, mas está do lado do bem. A imprensa errou, mas com boa intenção. Lindemberg fez o que queria: sem ele não haveria tragédia.
Os nossos problemas
Não foi a imprensa que matou Eloá, embora tenha contribuído para dificultar a missão da polícia. Mas, entre os múltiplos erros dos meios de comunicação, está Marcos do Val – o tal agente da SWAT com poucos quilos a menos do que este colunista – que deu um monte de entrevistas como especialista em resgates e depois, descobriu-se, não era exatamente o que dizia. Não é a primeira vez que isso acontece (já houve um "herdeiro da Gol" gastando a rodo num evento, já houve um "professor Macena da FGV" que publicava artigos nos jornais), mas com essa exposição deve ser a primeira vez.
Tudo bem, no calor da hora comete-se algum erro. Mas levar a mais da metade da população brasileira um especialista em resgate que não é especialista em resgate é um erro grave demais. Falhou a checagem – falhou tudo.
Como é mesmo?
Do blog de um colunista famoso, a respeito do senador Eduardo Suplicy, do PT paulista: "prolixo senador tucano do PT".
E eu com isso?
A Bolsa recua, o pessoal que queria o dólar caro agora quer o dólar barato, aquela marolinha que era "problema do Búchi" já custou boa parte das reservas internacionais do Brasil. Mas há outro mundo possível:
** "Johnny Depp é pego comendo chapéu em gravação"
** "Keanu Reeves janta acompanhado em Londres"
** "Kate Moss chega a show em carro milionário com calça suja"
** "Carro quebrado leva multa por excesso de velocidade"
Essa coisa de multa tem muitas histórias. A melhor que este colunista conhece é a do carro que foi entregue pela fábrica ao revendedor em determinada data e vendido alguns dias depois. Pois não é que o comprador foi intimado a pagar um monte de multas do tempo em que o carro ainda não tinha sido fabricado?
O grande título
Há dois excelentes espécimes:
** "Pais de noivos separados – Como organizar uma cerimônia religiosa"
Parece que a frase deveria ser construída de outro jeito – digamos, "pais separados de noivos".
E o melhor da semana:
** "Córnea transplantada é usada há 123 anos"
Será que o pessoal não tem condições de encontrar uma córnea mais nova?
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
O resultado conforme a previsão dos oráculos
Dos 30 prognósticos para ontem, os institutos de pesquisa acertaram 23 (correspondendo a 77% do total), erraram quatro - Macapá, Santo André, São José do Rio Preto e Ponta Grossa - e três resultados ficaram na margem de erro: Rio de Janeiro, Juiz de Fora e Campina Grande. O caso vergonhoso foi na capital do Amapá. O equívoco do Ibope foi de 17%.
domingo, 26 de outubro de 2008
Nas barbas do Planalto
Caros,
Recentemente, recebi uma denúncia de que um texto meu, escrito e
publicado em 2000, tinha sido copiado quase na íntegra e sem a citação
de fonte em um edital DO GOVERNO FEDERAL deste ano(vejam mais
informações abaixo). O que me preocupa é que a institucionalização do
plágio, da cópia, pela simples falta de tempo ou preguiça de escrever um
texto próprio, está tão arraigada nas nossas universidades, que até a
Secretaria de Comunicação do Governo Federal está adotando tal prática.
Meus alunos que disponibilizam seus trabalhos na Internet também são
constantemente alvo de cópias e, inclusive (pasmem!) recebi uma denúncia
recente de um artigo de aluna publicado nos anais online de um congresso
cuja cópia quase integral encontra-se publicada em revista AVALIADAS
PELO QUALIS! O problema, parece-me, adquire contornos epidêmicos.
É mister, parece-me, que unamos nossos esforços e nossas representações,
como a Compós e a ABCiber, para atuarmos de forma mais contundente na
questão do plágio e da cópia, sugerindo, inclusive, medidas que possam
ser adotadas pelos PPGs, revistas, e etc. para coibir tais práticas.
Acho que poderíamos, inclusive, propor uma discussão a respeito do
problema nos nossos congressos. Além de sermos mais exigentes em sala de
aula, para começar a mostrar aos alunos que escrever um texto é um ato
criativo, e não uma cópia de outro texto pré-existente. Uma ferramenta
útil, por exemplo, é esta aqui - http://www.plagiarismdetect.com . Via
web, o site faz uma varredura no Google em busca de frase, parágrafos e
textos copiados. Testei algumas vezes e parece funcionar. A plataforma é
free.
Vejam bem: Uma coisa é utilizar o texto como fonte. Outra, bem
diferente, é copiar.
[]s
Raquel Recuero
P.S.:
Para aqueles que quiserem ver o material do edital: -
http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/Subsecretaria/.arquivos/edital_internet.pdf
E do meu artigo - http://pontomidia.com.br/raquel/revolucao.htm
A cópia está no anexo 1 do edital, que reproduzo abaixo:
No edital:
(p. 58)
"A primeira grande revolução na comunicação aconteceu quando o homem
desenvolveu a linguagem, como tentativa de comunicar-se com seus
semelhantes. A linguagem permitiu que a humanidade transmitisse o
conhecimento adquirido, aperfeiçoando a forma de apreender o mundo.
Alguns séculos mais tarde, a linguagem teve seus sons codificados em
símbolos, e posteriormente em alfabetos. Com a criação dessa nova
convenção, teve início a civilização como a conhecemos hoje."
No meu artigo (p.1):
"A primeira grande revolução na comunicação aconteceu quando o homem
desenvolveu a linguagem, como tentativa de comunicar-se com seus
semelhantes e sucesso na luta pela sobrevivência. A linguagem permitiu
que a humanidade conseguisse transmitir o conhecimento adquirido,
aperfeiçoando a forma de apreender o mundo pelas primeiras comunidades.
Alguns séculos mais tarde, a linguagem teve seus sons codificados em
símbolos, e posteriormente em alfabetos. Com a criação desta nova
convenção, teve início a civilização como a conhecemos hoje."
No edital (p.58):
"A escrita permitiu que o conhecimento ultrapassasse a barreira do tempo
e que amensagem pudesse existir independente de um emissor, podendo ser
recebida por alguém
que soubesse decifrar seu código. Permitiu também a organização linear
do pensamento, base da inteligência e cultura dos séculos seguintes. Com
a escrita desenvolveu-se também a ciência, criando várias raízes de
conhecimento científico e desenvolvendo as civilizações. Com a ciência,
o espaço pôde ser reconfigurado, medido, transformado. A distância
passou a ser algo concreto, passível de ser medido."
No meu artigo (p.1):
" A escrita permitiu que o conhecimento ultrapassasse a barreira do
tempo e que a mensagem pudesse existir independente de um emissor,
podendo ser recebida a qualquer momento por alguém que soubesse decifrar
o código. Permitiu também a organização linear do pensamento, base da
inteligência e cultura dos séculos seguintes. Com a escrita
desenvolveu-se também a ciência, criando várias raízes de conhecimento
científico e desenvolvendo a civilização. Com a ciência, o espaço pôde
ser reconfigurado, medido, transformado. A distância passou a ser algo
concreto, passível de ser medido."
No edital (p. 58):
"Tamanha reviravolta está sendo revivida com o surgimento de um novo
meio de comunicação, o mais completo já concebido pela tecnologia
humana: a internet. O primeiro
meio a conjugar duas características dos meios anteriores: a
interatividade e a massividade.O primeiro meio a permitir que todos
sejam, ao mesmo tempo, emissores e receptores
da mensagem. É uma comunidade repleta de vias duplas de comunicação,
onde todos podem construir, dizer, escrever, falar e serem ouvidos,
vistos, lidos. Com o surgimento desse novo meio diversos paradigmas
começaram a ser modificados, e nossa sociedade deparou-se com uma nova
revolução, tanto ou maisimportante do que a invenção da escrita. O
paradigma do pensamento linear está sendo superado por um novo
paradigma: o pensamento hipertextual, que se organiza sob a forma de
associações complexas,
considerado muito mais apto e completo para descrever e explicar os
fenômenos do que o processo linear. Ao mesmo tempo, o advento do
ciberespaço, um espaço novo, não concreto, mas igualmente real, sugere
uma reconfiguração dos espaços já conhecidos, das relações entre as
pessoas e da própria estrutura de poder. Uma das características mais
profundas da influência dos meios de comunicação nas sociedades é a
reconfiguração dos espaços percebidos por essa sociedade. A comunicação
reduz as distâncias e permite que as pessoas se aproximem. Com a
internet essas distâncias tornam-se ínfimas. Agora, além de ter "acesso"
a informações de lugares distantes, é possível também alterá-las."
No meu artigo: (p.1)
"Tamanha reviravolta está sendo revivida neste final de século. Com o
surgimento de um novo meio de comunicação, o mais completo já concebido
pela tecnologia humana: a Internet. O primeiro meio a conjugar duas
características dos meios anteriores: a interatividade e a massividade.
O primeiro meio a ser, ao mesmo tempo, com o alcance da televisão, mas
com a possibilidade de que todos sejam, ao mesmo tempo, emissores e
receptores da mensagem. [É a aldeia global de McLuhan concretizada muito
além do que ele havia previsto. Uma aldeia repletas de vias duplas de
comunicação, onde todos pode construir, dizer, escrever, falar e serem
ouvidos, vistos, lidos.] Com o surgimento deste novo meio, diversos
paradigmas começam a ser modificados e nossa sociedade depara-se com uma
nova revolução, tanto ou mais importante do que a invenção da escrita. O
paradigma do pensamento linear está sendo superado por um novo
paradigma: o pensamento hipertextual, que organiza-se sob a forma de
associações complexas, considerado muito mais apto e completo para
descrever e explicar os fenômenos do que o linear. Ao mesmo tempo, o
advento do ciberespaço, um espaço novo, não concreto, mas igualmente
real sugere uma reconfiguração dos espaços já conhecidos, das relações
entre as pessoas e da própria estrutura de poder."
(p.2)
"Uma das características mais profundas da influência de um meio de
comunicação nas sociedades é a reconfiguração dos espaços percebidos por
esta sociedade. Isso porque a comunicação reduz as distâncias e permite
que as pessoas aproximem-se. Não em uma perspectiva concreta,
obviamente, mas em uma perspectiva de percepção. Com a Internet essas
distâncias tornam-se ínfimas. Isso porque agora não é mais possível
apenas ter "acesso" a informações de lugares distantes. É possível
também alterá-las."
No edital (p. 59)
"A análise da internet como fator modificador das relações sociais é
principalmente enquadrada pelo estudo das comunidades virtuais, como
forma mais pura de consequ?ência
da interação entre o humano e o ciberespaço."
No meu artigo (p.2)
"A análise da Internet como fator modificador das relações sociais é
principalmente enquadrada, em nosso ponto de vista, pelo estudo das
comunidades virtuais, como forma mais pura de conseqüência da interação
entre o humano e o ciberespaço.
No edital (p.59)
"Além disso, a organização da própria informação no ciberespaço faz com
que a noção de território que permeou nossas idéias por séculos seja
superada."
No meu artigo: (p.5)
"Além disso, a organização da própria informação no ciberespaço faz com
que a noção de território que permeou nossas idéias por séculos seja
superada. "
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sábado, 25 de outubro de 2008
A primeira página do livro
A origem de tudo
Nem bem ele foi dado à luz e algumas questões existenciais passaram a atormentá-lo. Primeiro, a tríade elementar hegeliana: o ser, o não-ser e o vir-a-ser. Logo em seguida, os primados ôntico e ontológico do ser na perspectiva heideggeriana. Digressões, convenhamos, tanto quanto pesadas para quem nascera havia minutos. Mas eram apenas o prelúdio da avalancha a encobrir tão impúberes neurônios. Compunham a segunda leva os conceitos da bacia semântica do Durand, da fusão do horizonte de Gadamer e o dos rizomas freáticos da existência, patenteado pelo filósofo Divino Habsburgo.
Pensou em pensar. Porém, estar de cabeça para baixo complicava. Pego pelos pés, sentia-se um ioiô arremessado à vida. Estranhou o tapa nas costas, o chacoalhar e o movimento daqueles seres aventalados.
- É um menino, anunciou a enfermeira. Qual é o nome?
E antes da resposta da Rosamaria, a bela mulher ainda entorpecida pelo parto, ele antecipou-se.
- Eu de Mim Mesmo.
Foi um pandemônio.
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sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Da correspondente do No Mundo da Lua News na terra do Cabo das Tormentas
South Africa - Cape Town entre montanhas e na espera da Copa do Mundo
Emanuelle Vieira Torres, Manu
A África do Sul já "respira" a Copa do Mundo que chega em 2010. Quem vier, se surpreenderá com o mix de culturas e, provavelmente, jamais esquecerá quando se falar deste país. Cada lugar tem suas peculiaridades, mas aqui tem algo a mais que não se vê, apenas se sente quando se está em contato com o povo. Serão nove cidades sediando a Copa sendo o maior estádio em Jonhannesburgo (a principal porta de entrada para os estrangeiros). Os visitantes poderão escolher visitar as cidades dos jogos com 123 mil habitantes (Rustenburg) até 5,7 milhões (Jonhannesburgo). O futebol é a prioridade, mas provavelmente o turista escolherá um lugar atrelado ao que gostaria de explorar nesta terra. O que não falta é a diversidade de atrações! Tem programas desde visitas às vilas nativas e townships, esportes radicais, museus, tours aos parques naturais e, principalmente, safári em zôo natural com destaque para o Kruger National Park onde se encontram os Five Big Animals (leão, leopardo, búfalo, rinocerante e elefante).
Em Cape Town (Cidade do Cabo), onde estou passando alguns meses, é a "parada obrigatória" dos turistas. O "carro-chefe" que atrai milhares de pessoas é a famosa Table Mountain (montanha em formato de mesa). O monumento ostenta uma beleza exuberante avistando a cidade em todos os ângulos, bem como quem está na parte de baixo pode prestigiá-la da mesma forma. A sensação é que ela está em todos os lugares seguida pelas nuvens. Incrível como aqui este fenômeno natural impressiona como nuvens de algod`ao! A cidade também encanta pelas praias, montanhas e pontos históricos como Cape of Good Hope (a ponta da África do Sul) e Robben Island (ilha onde Nelson Mandela ficou preso). Em decorrência dessa realidade turística, a cidade se molda aos interesses do turismo. Quem pensa em encontrar no centro a população usando roupas coloridas tradicionais, comidas típicas e costumes africanos poderá se decepcionar. A primeira impressão é que não se está no continente africano. Se encontram restaurantes de todas as nacionalidades, lojas com marcas famosas, prédios e casas sofisticadas. Para conhecer um pouco mais da realidade é necessário sair do coração da cidade, visitar bairros específicos (no passado havia divisão para os brancos, negros e "coloridos" - outras origens) e as townships (favelas). Outra opção, é se aventurar de ponta-a-ponta pelo país.
Os visitantes que vêm a Cape Town poderão perceber nitidamente que a cidade ainda vive resquícios da época do apartheid. A democracia neste país ainda é recente (1994), mas no coração e alma de muitas pessoas permanece a cicatriz de um passado político turbulento. Há a liberdade, mas os brancos locais não gostam dos negros locais e vice-versa. Os grupos estão segmentados na convivência diária e para fazer parte é necessário ganhar a confiança. Outra situação peculiar é a diversidade de acentos e dialetos. São reconhecidas 11 línguas (sendo o inglês e o afrikaans oficiais), as quais trazem hábitos, costumes e culturas diferentes. É preciso respeitar toda e qualquer situação! Do contrario, pode ser uma invasao "a identidade pessoal.
Enquanto não chega 2010...o que mais se vê são guindastes e obras em todos os cantos da cidade. São empreendimentos sendo construídos em pleno vapor, bem como o estádio com 70 mil lugares. Não sei como será a recepção para cada pessoa...mas os brasileiros têm posição privilegiada pelo futebol. São bem-vindos e lembrados pelo "Ronaldinho, Dunga, Pelé, Cafú, Parreira"... o melhor futebol do mundo.
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quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Sim, nós podemos!
Obama lidera em apoio de jornais
Se o voto de jornais valesse, a chapa democrata à presidência dos EUA já estaria eleita. Até esta quarta-feira (22/10), 124 diários americanos declararam seu apoio ao candidato Barack Obama e 46, ao republicano John McCain. Em 2004, o apoio ao democrata John Kerry chegou a 213 jornais, contra 205 que optaram pela reeleição de George W. Bush.
Quatro anos depois, pelo menos 27 jornais que apoiaram Bush na última eleição voltaram-se para Obama; apenas quatro diários fizeram o caminho inverso. Entre os grandes títulos americanos que já declararam seu apoio, a maioria também tende ao lado democrata.
Entre os 124 jornais que declararam apoio a Obama, com circulação total de mais de 13 milhões de exemplares, estão o San Francisco Chronicle, Washington Post, Miami Herald, Boston Globe e Seattle Times, que apoiaram Kerry em 2004; o Houston Chronicle, que apoiou Bush; e o Los Angeles Times, que não declarou apoio a nenhum dos candidatos. Já entre os 46 diários do lado de McCain, com circulação total de quase quatro milhões de cópias, estão o San Diego Union-Tribune, o New York Post, o Columbus Dispatch e o Boston Herald – todos declararam apoio a Bush em 2004. Informações de Greg Mitchell e Dexter Hill [Editor and Publisher, 22/10/08].
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Metamorfose ambulante
Final de fevereiro, 1815. Napoleão foge da Ilha de Elba e segue para Paris. O Le Moniteur, da capital francesa, acompanha a jornada do general:
9/3 - O antropófago saiu da toca
(ao saber da fuga)
10/3 - O Ogro da Córsega acaba de desembarcar no golfo Juan
(Napoleão chega ao continente)
11/3 - O tigre apareceu em Gap. As tropas estão chegando de todos os lados para deter-lhe a fuga. A miserável aventura acabará em fuga nas montanhas
(Napoleão vence o primeiro combate)
12/3 - O monstro pernoitou em Grenoble
(Napoleão se aproxima da capital)
13/3 - O tirano passou por Lyon
(Napoleão cada vez mais perto)
15/3 - O usurpador foi visto a 60 léguas da capital
(Napoleão nos arrabaldes de Paris)
19/3 - Bonaparte avança a passos largos mas nunca entrará em Paris
(Napoleão na periferia de Paris)
20/3 - Napoleão chegará amanhã aos muros de Paris
(Napoleão às portas de Paris)
21/3- O Imperador chegou a Fontainebleau
(Napoleão em Paris)
22/3 - Sua majestade Imperial deu entrada, ontem, nas tulherias, entre os seus fiéis súditos
(Exemplo do oportunismo da imprensa citado por Carlos Lacerda na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em dezembro de 1949. A palestra resultou no livro A Missão da imprensa)
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quarta-feira, 22 de outubro de 2008
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Circo da Notícia
TRAGÉDIA EM SANTO ANDRÉ
O fantástico show da morte
Por Carlos Brickmann em 21/10/2008
Do lado de dentro do apartamento simples em Santo André, SP, a tragédia: duas meninas ameaçadas por um homem armado, que terminaria por matar uma e ferir a outra. Do lado de fora, a festa da imprensa: repórteres, câmeras, celulares, entrevistas ao vivo com o seqüestrador, que a cada instante se sentia mais poderoso, uma celebridade. E transmissões diretas, que permitiriam que o criminoso acompanhasse, minuto a minuto, as manobras da polícia.
A liberdade de imprensa não pode ser limitada: a Constituição não o permite, e represar informações vai contra o interesse do país. Mas liberdade de expressão não significa, por exemplo, que alguém deva gritar "fogo!" num estádio lotado. E liberdade implica responsabilidade. Quanto mais liberdade, mais responsabilidade. Teremos sido nós, jornalistas, ao elevar a auto-estima do criminoso, ao revelar-lhe a cada momento os planos da polícia, co-responsáveis pelo tiro em Nayara e pela morte de Eloá?
Há quase 60 anos, um filme clássico de Billy Wilder sobre a imprensa, A Montanha dos Sete Abutres, com Kirk Douglas, já narrava como pode ser nocivo o envolvimento dos jornalistas com os acontecimentos. Jornalistas devem reportar, não interferir. E colocando no ar, ao vivo, um maluco homicida armado, a imprensa interferiu nos fatos: transformou-o em famoso, inflou seu ego assassino, ajudou-o a se sentir acima do bem e do mal.
Não há ganho de audiência, nem de circulação, que valha a vida de Eloá.
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E vai rolar a festa
Se deu certo com um, por que não com outro?
Se o seqüestrador e assassino da namorada virou celebridade (e não por 15 minutos, como é de praxe, mas por mais de quatro dias), pautou as tevês, deu entrevistas ao vivo, por que não seguir seu exemplo?
Outro idiota, este de Minas Gerais, resolveu ficar famoso também: em Ibirité, invadiu a casa da namorada, feriu os pais dela a bala (por que não aprovavam o namoro), e sabe-se lá até onde iria se a polícia não interviesse a tempo.
Esta notícia meio que sumiu no meio da repercussão do assassínio de Eloá. Mas deve manter-se em destaque na cabeça dos jornalistas. Até que ponto temos algo a ver com isso?
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O grande Carnaval
Nas proximidades do local do seqüestro, só faltou baiana para fazer pastel e um bom churrasco de gato. E, naquela festa do caqui, que ignorava a tragédia desenhada, até o governo tomou parte, mostrando-se confuso e desorganizado para lidar com a crise. Foi quando o governador José Serra, informado por seu secretário da Segurança, afirmou que Eloá Cristina Pimentel estava morta. A informação só viria a estar certa alguns dias mais tarde. Só que isso não é desculpa: se fosse, poderíamos noticiar a morte de qualquer pessoa a qualquer momento, porque um dia esta informação falsa se transformaria em verdadeira.
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A palavra materna
Uma mãe, que nada teve a ver com a tragédia de Santo André, SP, desabafa em mensagem (aqui publicada com ligeiras modificações, para atualizá-la):
"Peço licença para, como mãe e cidadã, postar uma crítica e um questionamento sobre a cobertura da mídia referente ao seqüestro em Santo André, SP. Além da espetacularização do seqüestro vejo a mídia não estar nem aí com o fato de estar informando o seqüestrador sobre cada passo dado pela polícia.
"Estou deveras preocupada com a falta de estratégias da polícia e a intervenção irresponsável da mídia. É fato que ele acompanhou os acontecimentos pela TV, após o restabelecimento da energia no apartamento.
"Se o seqüestrado fosse um filho meu, eu não estaria segura quanto ao desfecho desta história. Pergunto: qual é a responsabilidade da mídia em relação à seqüestrada, se eles pautam diuturnamente o perfil psicológico do sequestrador, dão espaço para alimentar o superego deste com entrevistas (inacreditável como a Polícia não interfere e deixa correr solto, além de permitir que a outra garota retornasse ao apartamento), e o mais crítico: informam cada ação da polícia do lado de fora. Haveria outros responsáveis pelo crime além do seqüestrador?"
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Equívocos eleitorais
Os meios de comunicação estão aceitando, como argumentos legítimos de campanha eleitoral, absurdas patranhas que deveriam ser tratadas pelo nome: mentiras, tentativas deliberadas de enganar os eleitores Não é a questão de construir "n" hospitais ou "x" quilômetros de metrô: as promessas podem até ser inviáveis, mas se um prefeito as escolher como prioridades absolutas, deixando de lado todo o resto, até que podem não estar tão longe.
Muitas vezes, a imprensa aceita como argumento tolerável a tentativa pura e simples de tentar iludir o eleitor grudando no adversário alguma característica desabonadora. Nem sempre dá certo: as insinuações de Marta Suplicy, em São Paulo, referentes ao casamento e ao número de filhos do adversário Gilberto Kassab, viraram-se contra ela. Mas resta a lenda de que os problemas enfrentados pela candidatura do PT se devem ao "direitismo" e ao "conservadorismo" de São Paulo.
Besteira: a cidade "direitista e conservadora" já elegeu duas vezes um mato-grossense de fala exótica, Jânio Quadros; uma nordestina petista, solteira e sem filhos, Luíza Erundina; um negro carioca que nunca tinha disputado eleições, Celso Pitta; um filho de imigrantes libaneses, Paulo Maluf; e a própria Marta Suplicy. Terá a cidade mudado, de oito anos para cá? Terá Marta mudado tanto que a cidade direitista e conservadora, que já a elegeu, lhe ofereça agora mais dificuldades?
No Rio, a coisa é pior. Os dois candidatos disseram, em debate, que já fumaram maconha. Mas o candidato governista Eduardo Paes tenta influenciar os meios de comunicação, ensinando-lhes a editar o que foi dito, e informando que ele só experimentou maconha, enquanto seu adversário Fernando Gabeira, sim, é maconheiro.
Às vezes dá certo: Jânio Quadros derrotou Fernando Henrique acusando-o de maconheiro e ateu, e dizendo temer que o adversário "incluísse a maconha na merenda escolar".
A isso se soma um certo descaso da imprensa com relação às pressões oficiais contra Gabeira. Aceitou-se, sem grande escândalo, que o candidato governista usasse o painel eletrônico do Estádio do Maracanã para fazer sua propaganda, à custa dos contribuintes (não terá havido crime eleitoral?); aceitou-se, com certa tranqüilidade, a apreensão de uma Kombi do candidato governista recheada de material apócrifo contra o adversário Gabeira. O Rio precisa ser olhado com todo o carinho pelos meios de comunicação: foi lá que se tentou "garfar" a vitória de Leonel Brizola, com pesquisas falsificadas; é lá que milicianos e narcotraficantes impedem que candidatos não afinados com eles, como Gabeira, procurem votos entre os habitantes de favelas.
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Os bons 1
Uma das melhores reportagens dos últimos anos ganhou a 30ª Edição do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, categoria jornal, violando todos os parâmetros hoje aceitos nas redações: texto longo, com várias páginas, tratando de um tema desagradável, a existência da escravidão nas usinas de cana de São Paulo.
Texto longo, mas que texto! Fotos de gente feia, mas que fotos! Lê-lo foi um prazer. E tomar conhecimento de que em São Paulo acontecem coisas que só imaginávamos possíveis nos grotões do Brasil – até mesmo com a manutenção da linguagem dos tempos da escravidão. Aquele profissional que hoje conhecemos como capataz, por exemplo, no mundo da cana ainda é o "feitor" – como aquele que controlava o trabalho dos escravos.
Os autores: Mário Magalhães, sempre excelente, e Joel Silva. Por publicar a reportagem, por dar-lhe o espaço necessário, por bancar custos que hoje boa parte da imprensa tenta evitar, a Folha de S.Paulo também merece os parabéns
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Os bons 2
A Rede Record também está em festa: Arnaldo Duran, Gustavo Costa e a equipe do Jornal da Record ganharam o Prêmio Vladimir Herzog, categoria Documentário de TV. A empresa investiu pesado, mandando uma excelente equipe para o Norte do país. Os jornalistas mostraram histórias estonteantes – por exemplo, o uso de terras federais, destinadas ao assentamento de colonos, para formar novas e grandes fazendas. Algo como 400 milhões de reais foram desviados.
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Como...
De um grande jornal, explicando como o Corinthians jogaria na ausência do atacante Herrera: "Bebeto deve ser o titular. Ontem ele treinou entre os titulares. Otacílio Neto e Bebeto são as outras opções".
Bebeto, 30 anos, entrou mesmo no lugar de Herrera. O outro Bebeto, que o jornal aponta como "outra opção", deve ser Careca, 20 anos. Mas como é que o jornal vai distinguir um do outro, se ambos usam camisetas do mesmo time?
A propósito, se é opção, só pode ser "outra". Como "planos" só podem ser para o futuro. É meio difícil planejar o passado. Ou ter como opção exatamente a mesma coisa que estamos fazendo.
...é...
De outro grande jornal: "Sete mil querem adotar uma criança no Estado".
Será que não há outras crianças para adotar?
Há alguns anos, um anúncio clássico dizia que "nove entre dez estrelas de cinema" usavam o mesmo sabonete. Stanislaw Ponte Preta, o grande cronista da época, completou: "A décima ganha o suficiente para comprar um sabonete só pra ela".
...mesmo?
Este é da internet, de um portal importante:
** "Bilhete de Bertioga (SP) acerta sozinho na Mega-Sena"
Acertar sozinho, vá lá. Mas como é que o bilhete pretende ir à Caixa Econômica Federal para receber o prêmio?
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E eu com isso?
Os candidatos se pegam na luta pelo segundo turno, Marta quer saber quem é que é casado e tem filhos, muita gente quer saber que é que ela tem com isso – mas outro mundo é possível. Veja que paz, que alegria, que bom humor!
** "Sutiãs voam em ato por salário melhor"
** "Susana Vieira reforça bronzeado com o marido no Rio"
** "Dado Dolabela e Luana Piovani trabalham para a chegada de um filho"
Tudo bem: não há quem diga, quando trabalha, que "está ralando?"
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O grande título
Desta vez é dificílimo escolher, e este colunista não consegue chegar a uma conclusão: você decide.
** "Netbooks: canibais jovens e baratos do mercado de laptops"
Claro, alguém deve entender o que é que isso significa.
** "Gordura Trans é um dos maus da alimentação moderna"
Há maus que vêm para bens, talvez?
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Uma análise da conduta do Batalhão de Operações Midiáticas, o BOM, no caso Eloá
Segunda, 20 de outubro de 2008, 14h24
Pimentel: mídia foi
"criminosa e irresponsável"
Diego Salmen - Terra Magazine
A cobertura feita pela Rede Record, RedeTV! e Rede Globo prejudicou as negociações com Lindemberg Alves, na avaliação do ex-comandante do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e sociólogo Rodrigo Pimentel. Para ele, a postura das emissoras foi "irreponsável e criminosa".
- O que eles fizeram foi de uma irresponsabilidade tão grande que eles poderiam, através dessa conduta, deixar o tomador das reféns mais nervoso, como deixaram, poderiam atrapalhar a negociação, como atrapalharam.
Lindemberg Alves, 22, manteve a ex-namorada Eloá e a amiga Nayara, ambas de 15 anos, como reféns por cinco dias em um apartamento na cidade de Santo André, em São Paulo. Na última sexta-feira, 17, o Gate (Grupo de Operações Taticas Especiais) invadiu o local. O incidente culminou na morte de Eloá.
Co-autor do livro "Elite da Tropa" e roteirista do filme "Tropa de Elite", Pimentel faz uma crítica ainda mais incisiva à inteferência da apresentadora Sonia Abrão, da RedeTV!, nas negociações. Ela entrevistou Lindemberg ao vivo na última quarta-feira, 15.
- Foi irresponsável, infantil e criminoso o que a Sonia Abrão fez. Essas emissoras, esses jornalistas criminosos e irresponsáveis, devem optar na próxima ocorrência entre ajudar a polícia ou aumentar a sua audiência.
Leia a seguir a entrevista com Rodrigo Pimentel:
Terra Magazine - Qual a responsabilidade objetiva dos governantes em incidentes como esse?
Rodrigo Pimentel - O chefe da polícia estadual é o governador do estado. Quem define as políticas de segurança pública e suas prioridades é o governador, através do secretário de segurança pública. É lógico que ele não pode ser responsabilizado de forma isolada pelo que aconteceu. Não é a primeira vez que uma ocorrência com reféns termina em tragédia no país. Nem será a última. Se você fizer uma análise histórica dos casos com reféns aqui, o normal é que eles tenham sido conduzidos com pouca qualidade técnica, muito amadorismo. Há precedentes emblemáticos, como o caso do arcebispo mantido refém num presídio em Fortaleza, quando o governador Ciro Gomes determinou que se dessem armas e coletes aos seqüestradores, tudo foi feito ao contrário do que determinam as normas.
Que normas são essas?
Veja bem: são normas rígidas? Não. São protocolos internacionais que podem ser adaptados de acordo com a necessidade, mas que se baseiam em dados históricos coletados ao longo dos anos. (...) Nós sabemos, por exemplo, que a presença de familiares em 80% dos casos deixa o seqüestrador mais nervoso e arredio, menos propenso à negociação. O jornalista, por exemplo, é bom ou ruim? Eu diria que na maioria das vezes é ruim. Porém, em algumas ocasiões, não muito raras, a presença do jornalista ajuda o tomador do refém a se entregar. Ele percebe que o jornalista no local garante a preservação da sua vida. Então tudo exige um conjunto de avaliações momentâneas.
Como o senhor escreveu em artigo na Folha de S.Paulo, a responsabilidade está na medida em que há falta de investimentos, como por exemplo a falta de câmeras...
Nenhuma unidade tática no Brasil dispõe desse equipamento. São equipamentos baratíssimos, custam menos que uma viatura policial. E são muito necessários. Se o Gate (Grupo de Operações Táticas Especiais) tivesse esse equipamento, não teria feito a opção pela invasão. Porque ia perceber que a porta tinha obstáculos. E aqueles 14 segundos que a equipe policial perdeu na porta foi o tempo para acontecer a tragédia, foi o tempo que o Lindemberg precisou para alvejar as meninas.
Foi o erro crucial?
É, exatamente. Mas o erro mais fácil de ser sinalizado foi a reintrodução da menina Nayara. Você não tem precedente disso na história moderna da negociação. Tem um caso em que o refém voltou ao cativeiro em Nova Iorque, no ano de 1972, que até gerou o filme Um dia de cão, com o Al Pacino. Mas veja bem: foi há quase 40 anos, não havia uma técnica desenvolvida (para lidar com esse tipo de situação). E esse fato foi transformador da doutrina da polícia de Nova Iorque. O filme é maravilhoso: retrata marginais mentalmente perturbados e economicamente motivados; eles queriam assaltar um banco. Foi uma ocorrência dramática em que aconteceu algo igual ao que resultou na morte da Eloá. Jornalistas ligavam para os seqüestradores o tempo todo...
Como o senhor avalia a cobertura da mídia?
A Sonia Abrão, da RedeTV!, a Record e a Globo foram irresponsáveis e criminosas. O que eles fizeram foi de uma irresponsabilidade tão grande que eles poderiam, através dessa conduta, deixar o tomador das reféns mais nervoso, como deixaram; poderiam atrapalhar a negociação, como atrapalharam... O telefone do Lindemberg estava sempre ocupado, e o capitão Adriano Giovaninni (NR: negociador da Polícia Militar) não conseguia falar com ele porque a Sonia Abrão queria entrevistá-lo. Então essas emissoras, esses jornalistas criminosos e irresponsáveis, devem optar na próxima ocorrência entre ajudar a polícia ou aumentar a sua audiência.
O Ministério Público de São Paulo deveria, inclusive, chamar à responsabilidade, essas emissoras de TV. A Record se orgulha de ter ligado 5 vezes para o Lindemberg. Ele ficou visivelmente nervoso quando a Sonia Abrão ligou, e ela colocou isso no ar. Impressionante! O Lindemberg ficou: "quem são vocês, quem colocou isso no ar, como conseguiram meu telefone?". Olha que loucura! Isso jamais aconteceria nos Estados Unidos hoje, jamais. Aconteceu há quase 40 anos, mas jamais aconteceria nos dias de hoje. Foi irresponsável, infantil e criminoso o que a Sonia Abrão fez. Eu lamento não ter falado isso na frente dela. Eu gostaria de ter falado isso para ela e para os telespectadores da Record e da RedeTV!.
O que ela fez foi sem a menor avaliação. Tanto que, num primeiro momento, ele (o repórter Luiz Guerra) tentou enganar o Lindemberg, dizendo-se amigo da família. E depois ele tentou ser negociador, convencer ele a se entregar sem conhecer os argumentos técnicos usados para isso. O que o capitão Giovaninni falava para o Lindemberg a todo momento é que, até aquele momento, o crime que ele havia praticado era muito pequeno. Esse é o argumento técnico, funciona quase sempre. "Olha meu amigo, até agora você não matou ninguém, até agora só colocou essas pessoas sobre constrangimento, sua pena vai ser muito pequena...". Isso funciona mesmo. E a Sonia Abrão não tem esse argumento, a Record também não.
Podemos esperar mais casos com esse tipo de desfecho?
Outras virão, não vai ser a primeira nem a última vez. O que aconteceu ali, apesar de ser uma ocorrência com refém, é algo comum no Brasil. Ex-noivos, ex-maridos e ex-namorados matando suas ex-companheiras ou suas companheiras atuais. Nós temos Estados no Brasil, como Pernambuco, onde cerca de 20% dos homicídios são dessa natureza, praticados por companheiros. Uma mulher morre por dia em Pernambuco vítima do seu companheiro. Essa é outra questão para a gente refletir. Apesar de ser uma ocorrência com refém, o que chama a atenção é a morte de uma ex-namorada, o que é absurdamente comum no Brasil. Homens no Brasil matam suas companheiras com uma freqüência muito grande.
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No palanque com os manos
Sete Dias
Augusto Nunes - Jornal do Brasil
O avesso das coisas – Cercada de pecadores, Marta repreende Kassab por ter andado com Pitta
"Candidato Kassab: por que você tem vergonha de dizer que anda com o Maluf e com o Pitta?", pôs as mãos nas cadeiras, fez cara de debutante contrariada e acionou o pisca-pisca das pestanas Marta Suplicy no meio do debate na TV. "Eu ando com o Lula", foi em frente a edição vespertina da colegial do Sacre Coeur. "E tenho muito orgulho das pessoas com quem ando".
Pois não deveria, deixou de aconselhar o prefeito Gilberto Kassab, candidato do DEM. Cavalheiresco, limitou-se a repetir que se arrependeu de ter chefiado a secretaria municipal de Finanças na administração Celso Pitta, e registrou, de passagem, que a mulher de Delúbio Soares é a assessora de estimação da candidata do PT.
Um adversário menos clemente teria ido bem mais longe. Certamente perguntaria se Marta continua andando com o companheiro gatuno que, em 2003 e 2004, festejou a seu lado a passagem do ano. Também perguntaria se tem saudade das temporadas em que Delúbio e Mônica Valente se hospedaram na casa alugada no Guarujá por Marta e Luis Favre. Sim e sim, provavelmente diria a mulher que censura Kassab por ter andado em má companhia.
Ela anda sem remorsos com mensaleiros, sanguessugas, aloprados, estelionatários, punguistas – todas as tribos da nação dos aliados pecadores têm vaga no palanque. Tem passado os dias com Paulinho da Força, Professor Luizinho, José Genoíno, João Paulo Cunha, José Dirceu, Antonio Palocci. Tem passado os dias e as noites com Favre.
O Brasil parece do avesso. A favorita da bandidagem do presente censura, sem ficar ruborizada, equívocos passados do adversário. Até os alto-falantes nos caminhões sabem de que lado estão os malfeitores em geral e os corruptos em particular. Marta faz de conta que as vestais não caíram na vida. O Brasil parece virado do avesso.
E está mesmo, confirma a campanha no Rio. O segundo turno avisa que o errado repreende o certo, que isto agora é aquilo, que o claro tornou-se o escuro. Os honestos são condenados à danação eterna por pecadores que roubaram até a chave do céu. E será excomungado sem direito a recurso quem for apoiado por Cesar Maia.
"Candidato Gabeira: por que você se envergonha de estar junto com o prefeito?", franziu o cenho e fez cara de moço sisudo Eduardo Paes no meio do debate da TV. "Eu nunca aceitaria esse apoio", proclamou o político nascido, criado e amamentado no berçário do mentor que agora renega. Como Marta Suplicy, ele se orgulha do palanque que montou, também atulhado de figuras que, se a Justiça valesse para todos, o candidato do PMDB só conseguiria ver de perto em visitas à cadeia.
Até o meio da semana, faltavam poucos prontuários para que Paes se arriscasse a um processo judicial por formação de quadrilha ou bando. Na sexta-feira, já não faltava ninguém. A penúltima a chegar foi a vereadora eleita Clarissa Garotinho, a bordo de um veículo carregado de folhetos bandalhos. Na sexta, com a entrada oficial do PTdoB na aliança de Paes, chegou quem faltava. Carminha Jerominha saiu da cadeia diretamente para o bloco da folha corrida. Foi muito bem recebida pelo que há de pior nos partidos coligados. A turma inteira está liberada para pecar sem medo. O bispo licenciado Marcelo Crivella prometeu que todos vão ganhar um lote no paraíso.
Ditirambo semanal
"Faça o jogo da donzela: sempre responda não ao mesmo tempo em que vai cedendo." - Buckingham - Cena VII - Ricardo III - William Shakespeare
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domingo, 19 de outubro de 2008
Coronel:
sábado, 18 de outubro de 2008
Jornalismo profético não perdoa, mata
O jornalismo profético é assim: nem se presta a conferir, perguntar ou questionar: será? Morreu mesmo? Nada disso, ele simplesmente executa.
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À queima-roupa
SERRA MATA ELOA E FAZ A GLOBO ERRAR
Do site do Paulo Henrique Amorim
. Carlos Tramontina, no SP TV segunda edição, leu nota oficial do Governador José Serra para anunciar a morte da Eloa, na desastrada operação de resgate do seqüestro em Santo André.
. O Uol, porta-voz de Jose Serra, deu em manchete: Eloa morreu.
. O jornal nacional entrou com um plantão para ressuscitar a Eloa.
. O Governo de José Serra pediu desculpas por ter matado Eloa.
. No pedido de desculpas, José Serra diz que recebeu a informação da Secretaria de Segurança e repassou à imprensa.
. "Repassar a imprensa" significa dar o furo a Globo.
. Ou seja, ao Carlos Tramontina, que foi tão gentil com o Governador ontem, no auge do quebra-quebra.
. Clique aqui para ler que Serra administra crise através da Globo.
. Só que dessa vez deu errado: o furo era uma barriga.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
As diferentes estéticas: a da realidade
EXTRA - O popozão mais bonito do Brasil já tem dona. É a modelo gaúcha Melanie Fronckowiac, de 20 anos, que venceu, quarta-feira, em São Paulo, a etapa nacional do concurso, patrocinado por uma empresa de lingerie. Melanie ganhou um prêmio de R$ 15 mil e vai participar da final do concurso, em novembro, em Paris.
e a da mídia
Estocolmo às avessas
Enviado por Ricardo Noblat - 17.10.2008| 4h35m
A sensacional história da refém devolvida ao cativeiro
Naiara, antes de ser devolvida ao sequestrador. Foto: Diário de S. Paulo
A Polícia Militar de Santo André, na região do ABC paulista, está psicologicamente abalada, decorridas mais de 90 horas do sequestro de Heloá Cristina Pimental da Silva, de 15 anos de idade, mantida refém em seu próprio apartamento pelo ex-namorado Lindemberg Fernando Alves, de 22 anos.
- É muita pressão. Já não aguento mais - admitiu há pouco um dos oficiais encarregados do caso.
Antes que perguntem, adianto que o dito oficial é casado e tem filhos.)
Eloá havia terminado há algum tempo o namoro com Lindemberg. Inconformado, ele invadiu seu apartamento armado com dois revólveres e portando uma caixa de balas. Encontrou Eloá estudando na companhia de três amigos da escola - um deles, Naiara Rodrigues Vieira, também de 15 anos.
Lindemberg mandou os outros embora e deteve Eloá e Naiara. Espancou Eloá várias vezes. Avisada, a polícia cercou o local.
Foi convocado um especialista em negociações com sequestradores. Seu nome não foi revelado. É um coronel. Que pareceu bastante confiante quando conversou pela primeira vez com Lindemberg.
Ligou para o celular dele. Tratou de acalmá-lo. Não, a polícia não invadiria o apartamento. Não, seus desejos seriam satisfeitos desde que fossem razoáveis.
Lindemberg disse ao negociador que não faria mal a Eloá e Naiara. Mas advertiu-o que não hesitaria em fazê-lo se polícia tentasse resgatá-las. E assim se passaram as primeiras 24 horas. Havia comida no apartamento. E a energia ainda não fora cortada. Acabou cortada como manda o manual do negociador.
De acordo com o manual, o passo seguinte caberia a Lindemberg. E de fato coube. Primeiro ele disparou quatro vezes na direção da polícia. Não pareceu interessado em acertar ninguém. Foi só para assustar.
Em seguida, avisou ao negociador que soltaria Naiara em troca de luz e de comida. Deram-lhe o que pediu. Lindemberg soltou Naiara na 33a. hora do sequestro.
Os contatos entre Lindemberg e o negociador ficaram suspensos por mais de 10 horas. Era preciso cansar o sequestrador, segundo o manual.
Procurado por jornalistas, Lindemberg conversou com vários deles ao telefone. E foi a estrela de programas de rádio e de televisão. A notoriedade alcançada reforçou sua autoconfiança.
Do lado da polícia, depois da 65a. hora do sequestro, dava-se como certo que Lindemberg estava pronto para abandonar o apartamento, rendendo-se mediante a garantia de que não sofreria violência e de que os jornalistas teriam acesso imediato a ele.
Foi então que Lindemberg fez um pedido para lá de inusitado: queria Naiara de volta.
Como? Naiara de volta? Naiara, a refém libertada que àquela altura estava em casa, segura, aos cuidados da mãe? Para quê Lindemberg queria Naiara de volta?
A exigência não fazia o menor sentido. Sequestrador costuma pedir dinheiro, helicóptero para escapar, a presença de jornalistas para garantir sua segurança, mas a devolução de ex-refém?
Lindemberg justificou seu pedido. Naiara funcionaria como uma espécie de negociador do seu lado para se entender com o negociador da polícia.
De tão estapafúrdio, o pedido não consta de nenhum tipo de manual de negociador de sequestro. Talvez tenha sido por isso que terminou atendido. Naiara foi convencida pela polícia a voltar a ser refém.
O negociador da polícia deve ter pensado: a um movimento exdrúxulo do sequestrador deve corresponder outro igualmente exdrúxulo. E haveria algo mais exdrúxulo do que restabelecer a cota original de pessoas em poder de um sequestrador?
Se o desfecho do sequestro for bem-sucedido, o episódio passará a ser estudado em todas as partes do mundo. E a estrela do negociador brilhará para sempre.
Foi essa a aposta que ele fez.
Ocorre que depois de recepcionar Naiara à porta do apartamento, Lindemberg desligou o celular. E tudo indica que mudou de idéia, engabelando o negociador. A essa hora, possivelmente dorme no lugar mais seguro de Santo André.
Tem gente interessada no assunto (eu) que espanta o sono especulando sobre os vários possíveis finais para essa história.
Um deles: Lindemberg se reconcilia com Eloá e exige que um padre vá até ao apartamento para casá-los na manhã do próximo domingo. Naiara seria a madrinha dos dois.
Encerrada a cerimônia, um helicóptero da TV Globo transportaria o casal até a sede do Projac, no Rio. E ali, Lindemberg e Eoá entrariam ao vivo no programa do Faustão. Mais tarde, ele se entregaria à polícia.
Um outro final para a história: sem aviso prévio, depois de jogar os dois revólveres pela janela, Lindemberg sairia do apartamento com as mãos para o alto. Cercado por jornalistas e policiais, declararia, nervoso:
- Não dava mais para aguentar aquelas duas. Elas não paravam de falar um só minuto. Transformaram minha vida num inferno. Suplico: levem-me preso.
O sono e os 17 graus de temperatura registrados nesta madrugada em Santo André amortecem a disposição de gente capaz de imaginar outros finais para o caso de cárcere privado mais longo da história de São Paulo. Entrou, hoje, no seu quarto dia.
Rezemos para que ele se esgote do modo mais feliz possível. Amém.
Embora se baseie em notícias de jornais, o relato acima tem um pouquinho de ficção que pode ser identificada nos trechos escritos em itálico. Não digo que tal fórmula deva ser adotada nas redações por aí a fora. Mas não seria de todo mal se fosse. )
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Revista de jornalismo brasileiro abre chamada de trabalhos para a 11ª edição
Jornal da Intercom
De 1º a 30 de novembro de 2008, a Revista PJ:BR – Jornalismo Brasileiro (ISSN 1806-2776) receberá colaborações de professores, pesquisadores, escritores, profissionais e graduados em comunicação para a sua 11ª edição.
O foco da PJ:BR é o jornalismo, mas os trabalhos de outras áreas também serão aceitos, desde que tenham uma conexão com a temática central da publicação. Os trabalhos inéditos serão privilegiados, mas reproduções também serão aceitas, sob avaliação.
Os textos (acompanhados pelas respectivas autorizações de publicação) devem ter até 20 páginas (A4), em formato doc ou rtf, tipo Times New Roman, corpo 12, espaço simples, justificado, com bibliografia imprescindível e notas (indicadas no texto, sem sobrescrito e entre chaves; exemplo: [1], e não:1) no final do texto, além de uma breve (até 5 linhas) biografia do autor. As imagens devem estar no formato jpg, com 72 dpi e legendadas. Também serão aceitas as resenhas de obras recentes e, ainda, os ensaios fotográficos temáticos, com até 5 fotos.
Os trabalhos devem ser enviados para os endereços: marcelojanuario@terra.com.br (Marcelo Januário - Editor) e valkneip@usp.br (Valquíria Passos Kneipp - Editora-Assistente).
PJ:Br – Jornalismo Brasileiro é uma publicação acadêmica eletrônica e está disponível no endereço www.eca.usp/pjbr . Trata-se de um projeto vinculado à Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP), com a coordenação de José Marques de Melo.
Dez
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Meus pêsames, mundo
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Dois dias na minha terra
Ditirambo semanal
domingo, 12 de outubro de 2008
As reflexões dominicais
Pensamentos do Lalau
Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)
- No Brasil as coisas acontecem, mas depois, com um simples desmentido, deixaram de acontecer.
- Antes só do que muito acompanhado.
- Quando aquele cavalheiro nervoso entrou no hospital dizendo "eu sou coronel, eu sou coronel", o médico tirou o estetoscópio do ouvido e quis saber: "Fora esse, qual o outro mal do qual o senhor se queixa?"
- Ser imbecil é mais fácil.
- Está dando mais do que cará no brejo.
- Nos trens suburbanos não livram a cara nem de padre, que dirá mulher de minissaia.
- O mais perigoso é que já estão confundindo justa causa com calça justa.
- O Reino Unido não é tão unido assim como eles dizem, não.
- Desligou o telefone com uma violência de PM em serviço.
- Mais monótono do que itinerário de elevador.
- Macrobiótica é um regime alimentar para quem tem 77 anos e quer chegar aos 78.
- Consciência é como vesícula, a gente só se preocupa com ela quando dói.
- Difícil dizer o que incomoda mais, se a inteligência ostensiva ou a burrice extravasante.
- Sempre ouviu dizer que o homem totalmente realizado é aquele que tem um filho, planta uma árvore e escreve um livro. Tinha um filho, plantou uma árvore, o filho trepou na árvore, caiu e morreu. Só lhe restou escrever um livro sobre isso.
- Quem não tem quiabo não oferece caruru.
- Mania de grandeza é a desses suplementos literários que têm um aviso dizendo que é proibido vender separadamente.
- Pode-se dizer a maior besteira, mas se for dita em latim muitos concordarão.
- Homem que desmunheca e mulher que pisa duro não enganam nem no escuro.
- Todo homem previdente sorri sem falha no dente.
- Mulher expondo teoria sobre educação infantil é solteira na certa.
- Menino mijado, bode embarcado e chefe de Estado, nunca fica despreocupado.
- Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!
- Esperanto é a língua universal que não se fala em lugar nenhum.
- Pra quem gosta de jiló, coruja é colibri.
- Era desses caras que cruzam cabra com periscópio pra ver se conseguem um bode expiatório.
- O terceiro sexo já está quase em segundo.
- As coisas que mais contribuem para avacalhar a dignidade de um homem são, pela ordem, bofetão de mulher e tombo de bunda no chão.
- Caetano Veloso confunde velocidade com trepidação.
- Hoje em dia ninguém é bonzinho de graça.
- A polícia prendendo bicheiros? Assim não é possível. Respeitemos ao menos as instituições!
- O primeiro nome de Freud era Segismundo. Aliás, não só seu primeiro nome como também seu primeiro complexo.
- Às vezes é melhor deixar em fogo lento do que mexer na panela.
- Mais inútil do que um vice-presidente.
- Mais mole que bochecha de velha.
- A polícia anda dizendo que prende um bandido de meia em meia hora, então a gente fica desconfiado que eles assaltam de 15 em 15 minutos.
- Ninguém se conforma de já ter sido.
- Quem desdenha quer comprar, quem disfarça está escondendo, mas quem desdenha e disfarça, não sabe o que está querendo.
- Mulher enigmática, às vezes é pouca gramática.
- Quando um amigo morre, leva um pouco da gente.
- Nem todo rico tem carro, nem todo ronco é pigarro, nem toda tosse é catarro, nem toda mulher eu agarro.
- Quem diz que futebol não tem lógica ou não entende de futebol ou não sabe o que é lógica.
- A diferença entre o religioso e o carola é que o primeiro ama a Deus, o segundo, teme.
- Pediatra sempre capricha na pronúncia quando anuncia sua especialidade, pra evitar mal-entendidos.
- Nem todo gordo é bom, muitos se fingem de bonzinhos porque sabem que correm menos.
- Tinha tal pavor de avião que se sentia mal só de ver uma aeromoça.
- Mulher e livro, emprestou, volta estragado.
- O sol nasce para todos, a sombra pra quem é mais esperto.
E para terminar:
- Da minha janela vejo o pátio de um colégio e quando a campainha toca para o intervalo das aulas eu paro de trabalhar e fico olhando, como se estivesse no recreio também.
- O importante é não deixar nunca que o menino morra completamente dentro da gente. Caso contrário, ficamos velhos mais depressa. Dizem que é por isso que os chineses, de incontestável sabedoria, conservam o hábito de soltar papagaio (ou pipa, se preferirem) mesmo depois de adultos. Não sei se é verdade, nunca fui chinês.
A dica dominical
Está à disposição da sociedade brasileira um extraordinário banco de dados sobre os grupos de mídia do país. Concebido e liderado por Daniel Herz, Donos da Mídia desvenda os laços de redes e grupos de comunicação, demonstra como o controle sobre a mídia é exercido, o papel dos políticos, a ilegalidade de suas ações e da situação de empresas do setor.
O uso do superlativo "extraordinário" justifica-se facilmente: basta
acessar www.donosdamidia.com.br para constatar que o site deverá se constituir em um marco na história das pesquisas sobre comunicação no Brasil. Além da sua diversidade e completude, Donos da Mídia é também um estudo inédito que permite avaliar as relações políticas, sociais e econômicas decorrentes da concentração da mídia nacional.
Produzido pelo Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação
(Epcom), entidade parceira do FNDC, Donos da Mídia, que está em fase
de finalização, lista 7.275 veículos de comunicação, abrangendo
rádios (inclusive as comunitárias), televisão aberta e por assinatura, revistas e jornais. Relaciona também as retransmissoras de televisão. No caso dos jornais, registra somente os de circulação diária ou semanal.
**O papel controlador das redes**
Donos da Mídia demonstra como tais veículos se organizam, destacando
o papel estruturador das redes nacionais de televisão, especialmente
as cinco maiores: Globo, Band, Record, SBT e Rede TV!. Há 33 redes
de TV, às quais estão ligados 1.415 veículos, geralmente através de
grupos afiliados. As redes de emissoras de rádio FM e OM somam 21.
Também são identificados grupos nacionais e regionais. Os grupos
nacionais foram definidos como o "conjunto de empresas, fundações ou
órgãos públicos que controlam mais de um veículo, independentemente
de seu suporte, em mais de dois estados". Foram identificados 33
grupos, controladores de 267 veículos. Record (34 veículos), Band
(32) e Globo (29) são os maiores.
Grupos regionais são aqueles que "controlam mais de uma entidade de
mídia, independentemente de seu suporte", atuando em até dois
estados. Há 139 deles, controlando 655 veículos. RBS (55 veículos),
OJC (24) e Sistema Mirante (22) são os maiores - todos são ligados a
Globo.
Os veículos quantificados podem ser localizados geograficamente na consulta à
seção Lugares
**A ilegalidade de grupos e políticos**
Navegando em Donos da Mídia, é possível saber quantos veículos há em
cada município, quais os grupos de mídia atuantes nas várias
regiões, bem como dimensionar a cobertura das redes. Os dados sobre as empresas incluem desde os seus endereços até seus concessionários,
permissionários ou proprietários.
A localização dos veículos e a identificação de seus concessionários
(e seus sócios) permite, por exemplo, constatar a situação ilegal da
maioria dos grupos de mídia. Quase todos controlam um número de
concessões superior ao permitido por lei. Os limites de concessões
ou permissões para os serviços de radiodifusão podem ser vistos no
Como é sabido, a Constituição Federal proíbe (artigo 54) os
deputados e senadores participar de organização definida como
"pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública,
sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço
público". Essa determinação constitucional aplica-se, por extensão,
aos deputados estaduais e prefeitos. Entretanto, Donos da Mídia,
identificou 20 senadores, 48 deputados federais, 55 deputados
estaduais e 147 prefeitos como sócios ou diretores de empresas de
radiodifusão.
Quanto às suas origens partidárias, predominam os políticos filiados
ao DEM (58, ou 21,4%), ao PMDB (48, ou 17,71%) e ao PSDB (43, ou
15,87%.
**Um projeto de Daniel Herz**
Apoiado em fontes
Em sua fase decisiva, o projeto foi conduzido pelo jornalista James
Görgen, que integrou o Epcom por vários anos. Leia a história do
projeto aqui
Secretaria Executiva
www.fndc.org.br
(51) 3213-4020 r. 217
sábado, 11 de outubro de 2008
15° ranking da baixaria na TV
Do site Ética na TV
A campanha Quem Financia a Baixaria é contra a Cidadania nasceu em 2002 fruto de deliberação da VII Conferência Nacional de Direitos Humanos, maior evento anual do setor no país. A campanha é uma iniciativa da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, em parceria com entidades da sociedade civil, destinada a promover o respeito aos direitos humanos e à dignidade do cidadão nos programas de televisão.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
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